Autor: Ricardo Ragazzo
Editora: Novo Século
Ano: 2014
Páginas: 232
Comecemos assim então: foi uma leitura bem ruim e que levou o triplo do tempo que eu esperava, prolongando o meu sofrimento.
Eu nunca tinha lido um nacional antes (pois é) e achei que seria uma boa ideia começar por este livro, já que a sinopse tinha me atraído bastante, o preço estava razoável e usava "serial killers" como tema. Foi um erro. (Aliás, por que os livros nacionais costumam ser tão carinhos e quase nunca entram em promoção, ein?).
Júlio Fontana, nosso protagonista, é insuportável e não teve um só momento em que eu tenha simpatizado com ele. Perde a cabeça o tempo todo, em seguida, se arrepende do que fez e logo depois faz a mesmíssima coisa. O clichê do rebelde, teimoso e autoritário, a fim de criar uma identificação/apelo instantâneo com o leitor, não funcionou muito bem... Tudo o que eu consegui enxergar em Júlio foi um homem de cinquenta anos confuso e arrogante, dando patada em todo mundo. Não que ele estivesse em uma situação propícia para o bom humor e risadinhas né?! Só que esse foi o único lado do personagem que nos foi apresentado durante toda a obra, como se ele não fosse nada além daquilo, ou seja: um porre. Sem contar na sua instabilidade e ingenuidade, que vez ou outra acarretavam uns vacilos inacreditáveis, mas não posso me aprofundar nisso para não dar spoiler.
A filha dele, Laura, tem dezoito anos de idade e protagoniza outro artifício já bastante conhecido por todos: amor à primeira vista. Até porque, quando um cara de quarenta anos aparece, do nada, na sua vida e seu pai adverte: "olha, esse aí matou minha ex namoradinha e não quero você perto dele viu?!" o que você faz? IGNORA O CONSELHO E SE APAIXONA PELO CARA, ISTO É ÓBVIO. Chega a ser inacreditável de tão forçado.
O livro é alternado entre terceira e primeira pessoa, sendo a maior parte narrada por Júlio. As outras ficam por conta de Laura e outros personagens secundários. É recheado de muitas cenas fortes com o intuito de chocar. Descrições sobre mortes e corpos mutilados não faltaram, muito menos comentários cruéis vindo dos assassinos e torturadores. Reviravoltas (fracas, eu achei) também aparecem com muita frequência. Aliás, são basicamente esses fatores que constituem 72 horas para morrer: reviravolta, crueldade, um bando de nada... reviravolta de novo, mais crueldade, mais um pouquinho de nada e por aí vai.
Um ponto que eu achei engraçado (e irritante) era Júlio pensando sobre o quão esperto aquele assassino era e em como ele conseguira arquitetar algo tão inteligente e engenhoso, quando na verdade tudo que tinha acontecido até o momento eram: mortes. E só. Nada muito inteligente, ou engenhoso. Cruel sim, mas só isso. Essa forçação de OLHA O PLANO DELE QUE COISA ARQUITETADA NOSSA SENHORA QUE SERIAL KILLER É ESSE HEIN não me convenceu.
Um dos plot-twists, que Ricardo Ragazzo colocou na reta final, como se fosse uma grande carta na manga, era totalmente previsível. Já o outro, revelado momentos antes, também não me chocou em nada porque eu nem me lembrava mais quem era a tal pessoa a qual estavam se referindo e tive que voltar páginas para descobrir... Isso porque eu li em menos de uma semana. Não me recordei do nome por ele não ter tido a menor importância no decorrer da narrativa e achei bem desnecessário resgatá-lo dessa forma. Não causou o impacto que o autor queria.
Eu esperava uma trama super inteligente, que me prendesse e me fizesse elaborar várias teorias, mas isso não aconteceu. Quinhentos plot-twists em um mesmo enredo não é sinônimo de uma história bem elaborada e surpreendente, e isso ficou bem claro nesse livro.
Quanto ao desfecho... EU RI DE TÃO SURREAL QUE FOI. Mais uma vez uma revirada na narrativa, que de fato NINGUÉM esperava, mas que não fazia o menor sentido. A obra segue como um romance policial por todo instante e no final (mais precisamente, nas ultimas onze páginas) um novo elemento nos é apresentado como um soco na cara para justificar tudo.
Confesso que, em determinadas partes, eu pulei linhas. Lia somente a primeira frase do parágrafo e pulava para a primeira do parágrafo seguinte, e tudo continuava a fazer completo sentido. Ou seja, muita coisa na narrativa foi desnecessária e ela poderia ter sido infinitamente menor. Para quem busca um bom romance policial, eu não recomendo a obra, nem de longe.