Autor: Franz Kafka
Editora: Companhia Das Letras
Ano: 2003
Páginas: 96
Kafka é como se fosse o guia para todo escritor de literatura fantástica. Se você quer descobrir como se faz para escrever realismo mágico bem, é só você ver que esse cara influenciou ninguém mais que os senhores Gabriel Garcia Marquez e Jorge Luis Borges, os maiores nomes do movimento latino-americano que botou o nosso povo na boca do mundo.
A Metamorfose é aquele negócio que todo mundo já sabe né: Um dia Gregor Samsa acorda de sonhos intranquilos e percebe que virou um inseto peçonhento gigante. A primeira frase é a sinopse da obra e ao mesmo tempo o que tem de mais incrível nela, porque a partir daí é apenas a família reagindo ao fato de que o cara que a sustentava agora está fodido em níveis estratosféricos e eles têm que arrumar novos jeitos de botar comida na mesa e lidar com uma barata (a descrição é completamente a de uma barata gente, parem de tentar pagar de pseudo-intelectuais com esse argumento bobo de que o Kafka não diz que é uma barata) que um dia já foi parente deles.
A escrita do Kafka é um pouco chatinha às vezes. Ele mantém uma frieza e um distanciamento do baratão muito bom, já que Gregor narra a historia e nunca chama nem seu pai e sua mãe de “meu pai” ou “minha mãe”, é sempre o pai ou a mãe. Mas o pragmatismo da escrita requer um pouquinho mais de força de vontade que o normal, principalmente se você é retardado que nem eu e tenta ler o livro em uma hora.
Gregor está sempre pensando na sua família, isso o faz sofrer muito mais do que deveria. A irmã é a única que tem coragem de cuidar dele, que pensa em sair daquela situação e pagar o curso de violino que ela tanto quer. Ele pensa também em se esconder toda vez que a mãe dele entra no quarto e em pagar uma dívida que o pai contraiu numa empreitada malsucedida. Tudo isso me faz pensar que Gregor pode ter sido condescendente demais com a sua família a ponto do corpo não aguentar mais, e o organismo do corpo gerar a metamorfose vista no livro. Sim, é uma teoria muito doida, mas se for para falar algo de um clássico eu prefiro ser original, e eu também realmente acredito nisso.
Por algum motivo, sempre que falamos sobre que edição comprar das obras do Kafka, as de capa branca da Companhia estão no topo dos colecionadores. Não sei se é por causa da tradução, se é porque elas são uma das poucas que não são de bolso ou porque são padronizadas, mas dessa vez eu fui com a manada e comprei o livro com essa capinha charmosa, que tem um acabamento simplista mas ótimo, sempre do padrão da Companhia. Ah, e cuidem-se para não pegar a gripe da barata também hein.