Autor: Aldous Huxley
Editora: Biblioteca Azul
Ano: 2014
Páginas: 314
Se lá bebês são criados em laboratório, temos aqui a aliança entre tecnologia e ciência ganhando cada vez mais força; Acerca do soma, por exemplo, possuímos nossas substâncias que também fornecem uma certa dosagem de "prazer" e que nos permite esquecer coisas desagradáveis mesmo que momentaneamente; Quanto ao condicionamento ao qual os indivíduos são submetidos durante toda sua vida, guess what, nós também somos condicionados. Não por repetição de frases que adentram o nosso subconsciente enquanto dormimos, mas sim através da mídia, das propagandas, das normas passadas de geração a geração que sabe-se Deus quem as inventou. Tentam nos manipular o tempo todo e por muitas vezes conseguem. Quem nunca se rendeu ao consumismo por acreditar que precisava se render a ele? Ditam como devemos nos comportar, o que devemos vestir, com quem deveríamos nos relacionar, que carreira deveríamos seguir... e todos esses aspectos se encontram na obra de forma muito mais gritante.
A comunidade em AMN é cheia das suas peculiaridades e, por conta disso, precisava realmente ser bem explorada. Porém, na minha opinião, foram páginas demais focadas nessa parte tornando a leitura arrastada no início. E, por algum motivo, eu esperava mais acontecimentos no decorrer da narrativa, digamos assim, e levou-se muito tempo até que isso viesse a ocorrer, ficou tudo muito parado.
As coisas começam a ficar mais agitadas quando Bernard Marx vai até a Reserva Selvagem na companhia de Lenina, porque dessa forma podemos ver os contrastes das duas sociedades, frente a frente. Nós vemos o choque (principalmente de Lenina) ao se deparar com aquelas condições quando, até então, o livro só tinha nos apresentado à nova organização.
O condicionamento e os processos químicos realizados durante a produção dos embriões (que definem as castas) são tão eficientes que ninguém questiona a situação em que vive, nem mesmo os menos favorecidos. Todos são plenamente felizes, como o governo quer que sejam. É uma utopia, mas tudo tem o seu preço que, nesse caso, é a liberdade. Ninguém é verdadeiramente livre, embora todos acreditem nisso.
Bernard é um dos pouquíssimos que enxergam a situação de forma diferente e por isso é visto com estranhamento pelos outros. Porém, mesmo ele, nosso suposto herói, tem suas recaídas e acaba muitas vezes cedendo e se comportando como o programado dentro do cenário. Não é nada fácil pensar por si só no novo mundo.
A obra apesar de futurística (pensada 600 anos à frente) e publicada em 1932, traz questionamentos atuais implícitos em suas metáforas muito bem criadas. A única coisa que me incomodou foi a lentidão dos fatos, mas conversando com outras pessoas eu descobri que geralmente as distopias clássicas são assim mesmo, bem diferentes das distopias de agora, então não vá esperando guerras, tiros e bombas.
Admirável Mundo Novo nos mostra qual seria o resultado de um governo totalitário, supostamente preocupado com o bem-estar de seu povo, que visa a estabilidade de seu sistema sem o menor questionamento, associado à ciência (muito) avançada, que, por enquanto, existe somente na ficção, mas como dito pelo próprio Aldous Huxley: "A utopia parece estar muito mais perto de nós do que qualquer pessoa, apenas quinze anos atrás, poderia imaginar. Nessa época, eu a projetei para daqui a seiscentos anos. Hoje parece perfeitamente possível que o horror esteja entre nós dentro de um único século."*
*A citação foi retirada do prefácio (que mais serve de posfácio por conter spoilers) escrito quinze anos depois do livro, onde o autor conta o que precisaríamos para que o universo narrado no livro viesse a existir e também o que ele mudaria na obra. É bem interessante, mas deixem para ler só depois!!