
Autor: Chico Buarque
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2003
Páginas: 176
Chico Buarque não precisa de apresentações. Se você não conhece o trabalho de um dos maiores músicos não só do Brasil, mas do mundo, eu recomendo fortemente que você pare de ler esse post e vá ouvir alguns álbuns desse mestre. Agora em sua velhice, o homem resolveu cair para esse lado das letras, e como não podia deixar de ser, seus textos são muito mais puxados para a forma do que para uma história em si.
Mas afinal sobre o que é Budapeste? Vamos lá: José Costa é um ghost writer muito famoso dentro desse universo, e durante a volta para casa depois de uma reunião anual dos ghost writers do mundo, o avião é obrigado a parar na cidade de Budapeste, pela qual Costa fica apaixonado, tanto pela cidade quanto pela língua. Então, depois que passa a escrever biografias para pessoas esquisitas e cria uma obra-prima (chamada O Ginógrafo) para um alemão sem pelo chamado Kaspar Krabbe, ele dá a louca e resolve ir para Budapeste e aprender a língua Magiar, onde começa a aprender com Kriska, e de quebra rola uma paixãozinha.
Essa sinopse é tão ruim que ela nem está no livro. Na contracapa, tem o jogo de espelhos que caracteriza a obra, nas orelhas, comentários de uma negada foda falando bem do livro, como José Saramago e Caetano Veloso. Por isso eu repito mais uma vez que sinopse não diz nada... Mesmo assim você deve estar achando que eu não gosto do livro pelo começo né?! Que nada, só não achei tão foda quanto da primeira vez.
O livro tem um milhão de pontos positivos: a escrita do Chico é incrível, reproduz extremamente bem o pensamento humano e tem uma levada tão boa que você nem nota que o tempo está passando, fora as ótimas “frases de facebook” para você ficar pagando de esperto por aí. O jogo de espelhos dentro do livro é muito forte, entre as duas mulheres, o filho de Costa e o filho de Kriska, Rio de Janeiro e Budapeste, entre outros. Certas partes do livro ele faz isso no mesmo parágrafo, com uma habilidade de escrita maravilhosa que faz você perceber que não foi um erro de prolixidade, e sim algo mais. Também temos a perseguição pelo domínio da língua húngara, uma entrega e uma vontade gigante que beira ao limite do personagem, algo que é vivido tão intensamente por José Costa quanto brasileiro por futebol.
O romance também tem outras sacadas, como por exemplo José Costa ser um duplo do próprio Chico Buarque, a questão do ghostwriting, e outras coisas que fazem valer a pena ler o livro. Mas, o livro não é só flores. Duas coisas me incomodaram nessa releitura: o próprio José Costa, que é um louco desvairado que não tem nenhuma ação sensata, e parece sofrer do que eu gosto de chamar de “as agruras do branco da meia idade”, o tema mais abordado na literatura brasileira e um dos que ninguém está ligando, e também as cenas de ação, que já são poucas (só duas) são mal feitas e não acrescentam em nada (a não ser o fato de que elas também são espelhos) e ambas terminam com Deus Ex Maquina, nada legal né seu Chico?!
O formato do livro é um pouco diferente do padrão da Companhia, mais largo e maior, o espaçamento que o livro tem é absurdamente grande, e a letra também é grandinha, então o livro é bem fácil de ler. Todo o acabamento gráfico trabalha a favor do livro, tanto a cor da capa quanto a já citada contracapa. E é isso, espero que mesmo assim os senhores leiam Chico Buarque.