
Autor: Herman Koch
Editora: Intrínseca
Ano: 2015
Páginas: 336
Marc Schlosser é o médico dos ricos e famosos de Amsterdã, que vive recebendo convites para estreias de filmes, peças e trabalhos, eventos que para ele são completamente entediantes. Ralph Meier é ator, um de seus pacientes e agora se encontra morto. Tudo teve início no verão anterior, quando Marc e sua família foram convidados pelo ator a passarem uma semana em sua casa de veraneio, com sua esposa, sogra, amigos e filhos. Caroline, esposa do médico, não é muito fã da ideia porque não vai muito com a cara de Ralph, que paga de sedutor o tempo todo, mas acaba cedendo. Idas à praia, garrafas de vinho, churrascos... Tudo vai bem, até que um incidente grave ocorre e o clima de desconfiança aparece.
Eu já conhecia o autor porque li "O Jantar" há uns dois anos e acabei gostando bastante. Quando me deparei com "Casa de Praia com Piscina" na livraria, li a sinopse e pensei: QUERO! Procurei algumas resenhas gringas na internet e PA SPOILER NA MINHA CARA. Após xingar a garota e toda sua decendência mentalmente, decidi que compraria mesmo assim e aqui estou.
De cara somos apresentados a um protagonista/narrador peculiar, digamos assim... A sinopse está ali em cima, então vocês já sabem que o cara é um médico e, eu não sei vocês, mas na minha cabeça médicos são pessoas verdadeiramente boas, atenciosas, risonhas e amáveis enquanto exercem sua profissão. Marc Schlosser está longe de ser essa pessoa. Vocês precisam ver as "confissões" que ele nos faz sobre seus pacientes. Ele não tem a menor ética e detona todos em pensamento enquanto sorri e finge se importar com o que dizem, o que te leva a pensar: será que todos são falsianes como ele? Olha aí, manchando a imagem da classe...
Apesar de Marc ser detestável, Herman consegue fazer com que criemos empatia em certos momentos, principalmente quando o tal incidente citado ali em cima ocorre. Além do mais, o discurso do cara carrega uma ironia que eu gosto muito. Lembrou o Chuck Palahniuk... Ok, não é TÃO bom quanto, mas o que eu quero dizer é que o autor curte um humor meio ácido, uns devaneios, é irônico e não tem medo de jogar verdades nojentas na sua cara. E quando eu digo isso, acreditem em mim...
Há personagens repulsivos nesse livro. Talvez você passe algum tipo de raiva lendo, o pior é saber que algumas pessoas realmente são da forma que o autor colocou. O que, de certa forma, é positivo porque ele preferiu não maquiar as coisas ou deixar tudo mais bonitinho. Eu curti.
Um ponto interessante e que me deixa confusa é que algumas atitudes (ou a falta delas) me incomodaram muito. Certas situações ali foram vistas com muita naturalidade para o meu gosto e isso me deixou intrigada. Sabe quando você olha uma coisa e sabe que tá errada? Então, mas para certos personagens estava tudo numa boa. Por um momento achei que fosse falha da obra, que fosse o autor não sabendo criar uma reação verossímil, mas pensei melhor e seria pouco provável, já que ele criou personagens tão humanos e sem photoshop. O que me levou a crer, depois de várias horas refletindo, que foi proposital e que todo mundo nesse livro é realmente meio nojento e não tem muita noção das coisas.
Porém, nem tudo são flores. Quando eu conheci o narrador, logo nas primeiras páginas, eu me empolguei porque achei incomum. Depois tudo ficou meio parado, uma questão mais de ambientação ao local, para você sentir o clima e de fato você sente. Aquele típico mood das férias e de aparências. O clímax, por assim dizer, também não é aquilo NOSSA QUE MARAVILHOSA QUE EMPOLGANTE. Talvez por conta do que eu disse no parágrafo anterior: achei algumas reações meio fora da realidade. Se tivesse sido ao meu modo de reagir, a história teria tomado outro rumo. Então, não vá esperando mil acontecimentos e narrativa de tirar o fôlego e NOSSA SENHORA ME AJUDA, ok!? Foquemos em personagens, personalidades e a podridão que pode ser a mente humana. Não são personagens que te cativam, daqueles que você quer andar junto no recreio, mas tem algo no livro que te faz querer acompanhar a rotina deles mesmo assim. Você não gosta deles, mas eles te puxam, principalmente Marc.
Já sabemos que um homem morreu e seguimos todo o livro acompanhando o que levou até aquele ponto. Aconteceram coisas que eu não estava esperando, mas o maior triunfo do livro, em minha opinião, não foi descobrir essas coisinhas de fato ou matar a charada. Sobre o final: não gostei muito. E olha que eu não sou de reclamar de finais. Não preciso de finais felizes ou fechadinhos, mas esse foi meio preguiçoso. Novamente eu esperava uma reação condizente, mas nada disso... Meio decepcionante.
Rotularam o livro como "thriller psicológico" e eu tenho começado a me questionar o que eles querem dizer realmente com isso, porque de thriller não vi nada, mas tudo bem... Só não vão com essa ideia em mente.
Acredito que o discurso ácido do narrador tenha sido a parte que mais gostei dessa leitura. O jeito que Herman colocou no papel. Trazer um protagonista nada cativante, encantador ou simpático, alguém que consegue ser repulsivo em certos momentos e ainda assim atrair a sua atenção, não parece algo fácil ao meu ver, então ele tem seus méritos por isso. Pesando na balança e comparando as leituras ruins que eu tenho feito ultimamente, foi um livro bom. Não diria que amei com todas as minhas forças, mas passou longe do odiar. Não é um livro que eu sairia recomendando para todos, mas não cabe a mim decidir isso. Se você curte esse tipo de escrita (e pessoas detestáveis) pode ser que funcione. E para aqueles que já leram O Jantar, considero uma leitura super válida também.