AUTOR: Mario Vargas Llosa
ANO DE PUBLICAÇÃO: 2016
ANO DA EDIÇÃO: 2016
EDITORA: Alfaguara
PÁGINAS: 216
*Exemplar cedido em parceria.
Para quem não conhece, Vargas Llosa é um peruano ganhador do Nobel de literatura (um dos seis que há na América Latina), escritor extremamente respeitado pela sua capacidade de contar grandes histórias e um dos principais participantes do boom literário da América Latina na década de 60, junto com Gabriel García Márquez, Carlos Fuentes, José Donoso, entre tantos outros maravilhosos que há nessa nossa terra. Então sabendo dessa importância toda eu esperava algo muito melhor do que li.
Antes de críticas, porém, vamos de sinopse: Uma noite em que duas amigas ficam presas na mesma casa sozinhas por culpa do toque de recolher criado no governo Fujimori, elas descobrem uma nova faceta de suas sexualidades. Já os maridos não desconfiam de nada e nem têm tempo para isso, pois um deles está em fotos comprometedoras que estão nas mãos de um jornalista saído do TV Fama pronto para armar qualquer coisa por audiência.
O primeiro capítulo é sensacional. Extremamente excitante mesmo com tão pouco, Llosa faz um retrato bem interessante da mulher em conflito por sempre ter achado o sexo lésbico errado, contudo o corpo colado de sua amiga no dela não deixa dúvida do que ela sente. Acontece que a partir daí o livro cai de qualidade, não bruscamente, mas é sentido, seja na construção dos personagens meio caricatos e inocentes, seja nas falas com pouca veracidade (ele teve a pachorra de usar o recurso idiota de um personagem explicar para o outro uma coisa que ele já sabe, como eu odeio quando isso acontece), aliás, isso é de longe o que mais me incomodou no livro: a escrita do Vargas Llosa é muito medíocre para um ganhador do Nobel, é tudo simplista demais, algo que não me incomodaria tanto, se não tivesse o fator expectativa mais o fator errinhos extras.
Já a história é um thriller interessante, contando um pouco sobre a vida no Peru durante a horrível época da ditadura Fujimori (que ganhou do próprio Llosa na eleição que botou ele no poder), com a trama sendo rapidamente monopolizada pela Baixinha, provavelmente a única personagem boa do livro, tendo que lidar com as mortes a sua volta e negociações com o poder para manter seu pescoço e jornal vivos. A trama das garotas rapidamente cai numa rotina desinteressante, o engenheiro marido de uma das duas é sofrível de chato, mas protagoniza um capítulo interessante, porém breve, que poderia facilmente ser alongado se o Mario tirasse aquela parte inútil da matéria da revista, 5/6 páginas que só repetem tudo que foi dito antes. Ainda há também o capítulo que constitui a maior estética das obras do Llosa, onde vários diálogos rolam ao mesmo tempo e ele embaralha todos, mas fica tudo bem coerente e interessante, porém eu quero ver como ele fez da primeira vez (acho que foi em Conversa na Catedral) para saber se essa é apenas uma fórmula reutilizada ou algo a mais.
O projeto gráfico da Alfaguara é o padrão de sempre, a gramatura do papel é um pouco mais fina do que o dos outros livros do peruano, porém não é nada de mais. A capa representa bem o livro, que fala muito sobre imprensa e mulher. Um livro com muitos altos e baixos, e, como sempre, eu deixo para os senhores escolherem fazer a leitura ou não.