Autor: José Saramago
Editora: Companhia das Letras
Ano: 1995
Páginas: 312
Então, como ia dizendo, Saramago é o segundo melhor escritor da língua portuguesa...
Contudo não estamos aqui para discutir quem é melhor do que quem e sim para discutir mais um livraço, e dessa vez é do Ensaio Sobre a Cegueira que iremos falar. Talvez algumas pessoas conheçam a obra baseada no livro do nosso grande diretor, Fernando Meirelles, que eu acho ótimo, mas como via de regra, o original é obviamente melhor.
E a sinopse é a seguinte: certo dia, durante uma tarde normal, um homem fica cego do nada, diante de um semáforo, estando dentro do seu carro. Porém sua cegueira não deixa tudo escuro na sua mente, mas sim tudo branco. Somado a isso, todas as pessoas que entram em contato com ele passam a ficar cegos e assim a doença vai se alastrando constantemente. Vendo a merda que isso está dando, o governo passa a botar esses cegos dentro de um manicômio vazio para tentar amenizar o estrago, fora as pessoas que tinham chances de estarem contaminadas e que ainda não manifestaram a doença. Nós acompanhamos a única pessoa que não foi afetada pela epidemia.
Saramago não nos dá os nomes das pessoas, e as chama pela característica em que ela nos foi apresentada pela primeira vez, como “o primeiro cego” e “a mulher do médico”, entre outros. Além disso, temos aqui a famosa forma de escrita saramaguiana, cagando para várias regras de português, como ao fazer perguntas botando vírgulas no final do questionamento no lugar de pontos de interrogação, a verticalização da trama em vários momentos para falar de filosofia e de problemáticas no momento da história, e as paredes de texto que ele forma substituindo o ponto final por: mais vírgulas!
Saramago trabalha em todos os aspectos possíveis de um mundo cego, te deixando embasbacado tamanho o realismo que ele traz para a obra. O fato de existir um personagem que enxerga também cria situações singulares e o portuga usa ótimos motivos para essa vantagem não ser extremamente aproveitada. Com a cegueira, Saramago mostra com clareza até como a humanidade é terrível, e pode facilmente voltar ao estado de animais irracionais. Ele não vai te poupar durante a leitura desse livro. Vai ser doloroso e duro, e não há como fugir disso. E aí vem a parte do ensaio: será que as pessoas que enxergam devem guiar as pessoas que não veem? Essa é uma pergunta mais complexa do que se pode imaginar. Às vezes os cegos estão conformados com a sua cegueira. Às vezes o que enxerga pode não conseguir carregar esse fardo de guia. Tantas possibilidades que te fazem pensar também se você enxerga ou se está tão cego quanto os personagens.
O livro da Companhia é mais um daqueles que tem o estilo padronizado do autor: a capa branca com o nome do Saramago maior que o título e uma imagem de uma aparente arte moderna a ilustrar o livro. Segurança é o que se pode esperar desses livros da companhia, sempre com o bom papel pólen e a capa com uma resistência decente. Seguiremos falando de mais livros do portuga e lamentando sua morte ainda recente.