Autor: Samuel Beckett
Editora: Cosac Naify
Ano: 2014
Páginas: 192
É isso aí negada, nesse post novo iremos fuçar essa nova área da literatura chamada roteiro de teatro, e como só cânones dos palcos são publicados por editoras, não preciso nem dizer que Esperando Godot é um clássico e também é a principal obra do irlandês Samuel Beckett, que também é ganhador do Nobel. Certo que já demos um pouco de abertura para isso no meu post passado (e se você foi uma boa pessoa e comprou/leu As Rãs sabe que teatro não é esse bicho de sete cabeças todo... ou você descobriu que é sim), mas aquela nunca foi montada e foi criada para integrar um texto maior, enquanto essa aqui precisa se sustentar sozinha.
Se você achou que eu estava brincando quando eu disse que esse livro não tem enredo, se liga na sinopse então: Vladimir e Estragon são dois pobretões que todo dia vão a um lugarzinho desértico onde tem apenas uma pedra e uma árvore desfolhada e ficam esperando Godot. E é isso. Também chega a aparecer um ricaço com um escravo e gera alguma discussão extra, mas no geral são esses personagens dizendo um monte de coisas aparentemente sem sentido e esperando.
Então você me pergunta: tio Victor, por que eu vou querer ler um bagulho em que nada acontece? Bom meus queridos e minhas queridas, porque essa peça tem duas características que justificam essa aparente falta de história, que é o fato dela se tratar justamente da espera por algo e ela ser de uma vertente chamada Teatro do Absurdo. Nós sentimos a angústia da espera por algo no seu sentido mais profundo durante a leitura, e nós nem sabemos o que estamos esperando exatamente: Godot é Deus? A morte? O sentido da vida? Não importa, pois temos apenas que esperar.
Já sobre o Teatro do Absurdo, bem, é quando tentam falar de um tema sem usar a coerência para isso, ou seja, sendo totalmente louco e esquisito num primeiro momento. Só que no teatro. Aqui, por exemplo, a dupla tem falas sequenciais que rimam, como se fosse uma poesia. Existem milhões de silêncios durante a peça, um constrangimento só. O tempo não funciona como na realidade, as pessoas não têm a menor noção em que dia estão ou do que aconteceu no dia anterior, fazendo parecer que até isso está quebrado. Há uma vontade latente de suicídio dos dois vagabundos, porém sempre acabam gerando situações cômicas. Na verdade tudo é bem tragicômica, como na cena em que Lucky, o escravo, é ordenado a pensar, gerando uma confusão ao mesmo tempo inteligente e pastelão, se é que isso é possível.
A interação das duas duplas nos dois atos é muito interessante, mas sinto que já contei até demais para vocês, então vou deixar esse pouquinho para vocês descobrirem. A edição da Cosac está linda de morrer (é serio eu nunca vou superar o fim dela), com um monte de extras, como fotos de várias montagens, textos críticos e, mesmo não tendo orelha e o papel sendo offset, a borda colorida e esses blocos de preto e branco criam uma composição incrível, que fica impossível você não querer ter uma cópia para você. Ah, e leiam mais teatro!