Autor: Roberto Bolaño
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2009
Páginas: 144
Apesar dele sempre ter achado a sua obra poética melhor que a sua prosa, de poeta ele não tenha nada né, o que nos faz concluir que o homem tinha um péssimo gosto. Mesmo assim, quando as poesias dele saírem aqui podem ter certeza que eu vou comprar. Fora a biografia dele, porque pelamor... Já deu para perceber que eu sou muito fã né? E todo esse hype começou por essa que é considerada a sua melhor novela e uma de suas principais obras. Então vamos à ela.
Alberto Ruiz-Tagle parece ser apenas mais um aluno que participa das oficinas de literatura da Universidade de Concepcion, onde também frequenta o nosso herói Arturo Belano, mas seu jeito frio e esquisito se revela assim que o golpe militar e Pinochet tomam o poder. Nesse momento vários poetas têm que fugir do país enquanto Alberto se revela um Militar Assassino chamado Carlos Wieder que faz apresentações em aviões de fumaça, escrevendo pelos céus da cidade chilena. Acompanhamos duas décadas das histórias desses dois, tentando entender esse misterioso personagem , procurando-o pelo mundo e, principalmente, pela literatura.
Tem um milhão de elementos em Estrela Distante que me faz adorá-lo, mas vou começar pela primeira página mesmo, onde Bolaño fala como foi feito o livro: primeiramente, ele conta que essa obra é baseada no capítulo final de outro trabalho seu, La Literatura Nazi in la America (ainda não lançado no Brasil), faz piadinhas sarcásticas sobre Belano (o melhor tipo de humor, apenas), informa ao leitor que ele mesmo teve pouca participação na construção do livro, basicamente só fez café durante o mês que os dois (ele e Belano, o “verdadeiro” escritor) ficaram isolados escrevendo e discutindo com o fantasma de Pierre Menard sobre a repetição de frases e capítulos, sendo Menard uma referência a um conto de Borges em Ficções: Pierre Mernard, Autor de Dom Quixote.
Ou seja, dai já deu para ver o quão louco o cara é, e a coisa nem começou. Dentro do livro nós encontramos várias reflexões sobre a situação do Chile pós golpe militar. Bolaño para a trama a hora que bem entende para focar em outros personagens, contar um pouco sobre como seus antigos professores fugidos do Chile vão de vida, e com isso vai mostrado panoramas até mesmo mundiais da época, juntando essas várias histórias interessantes num livro fino como esse de modo espetacular.
O personagem em foco, Carlos Wieder, representa algo que parece estar muito presente na literatura de Bolaño: como o mal pode estar entranhado em qualquer lugar. Na política, na literatura, nas pessoas mais bem educadas do mundo, para o Chaves nada disso importa, o mal parece um estado natural do ser humano, e, quanto mais refinada a pessoa é, mais isso é impactante, cruel e elaborado. Wieder assassina friamente pessoas logo no começo da trama e essa crueldade resulta numa cena totalmente disruptiva com o seu parâmetro de loucura. Se fosse mostrado em tela, tenho certeza que pessoas sairiam do cinema na hora. Por isso vale muito a pena.
Ao mesmo tempo em que o Chaves é muito pessimista, ele também parece romântico no final das contas, afinal, seu alter ego e herói da trama é um poeta, e a poesia está presente em todo o livro, que conta com várias citações a milhões de poetas (esses reais), e chego a dizer que uma pessoa afim de se aprofundar mais nos personagens poderia muito bem procurar no Google o trabalho dos autores citados, pois geralmente esse tipo de escritor mantêm uma filosofia própria que pode ser achada entre suas obras, vide o já citado Borges ou Ricardo Reis, heterônimo de Fernando Pessoa. (No caso eu estou falando do fato de os personagens serem construídos através dos seus gostos literários).
Bolaño também conta com a presença de outros pontos importantes dentro dessa obra, coisas bem atuais e modernas dentro da literatura como a já citada conexão de suas obras, tendo o seu alter ego como fio condutor; a literatura ensaística, tanto de poetas quanto do já resenhado Bruno Schulz; a mistura constante de gêneros (a obra em questão é essencialmente policial, mas de policial mesmo ele só tem a parte final e mistura elementos absurdos, realismo mágico e até mesmo jornalísticos). E por falar em jornalístico, esse é outro recurso forte: o jeito que Bolaño escreve, sendo sutil e rebuscado em certas partes, chulo e simples em outras, movimentando seu estilo e tom de acordo com o que a cena e o ritmo pedem, te deixando extremamente preso (não a toa li em um dia).
O projeto editorial é praticamente o padrão: tem orelha, papel pólen, colado e tals, então vou me concentrar na capa e no título, que eu não falei ainda. A capa pode parecer esquisita para muitas pessoas, mas eu adoro ela, amo esse estilo que a Companhia manteve durante vários livros do Chaves, de pinceladas aparentemente aleatórias tentando nos mostrar formas. Já o título, bem, vi alguns reviews por aí dizendo coisas malucas sobre física, movimento estelar, explosões e o caralho a quatro e acho que esse pessoal tá tudo maluco. Penso nesse nome como algo muito mais simples e poderoso (na minha opinião): a referida estrela é na verdade a estrela da bandeira do Chile, país ao qual Roberto Bolaño nunca mais pode voltar depois de fugir da ditadura, e que todos os personagens abandonam no decorrer da narrativa. Enfim, falei demais, isso tudo foi meu esforço para ver se vocês leem uma das melhores coisas que já foram criadas nesse mundo, que é a literatura do mestre Chavinho.