Vamos começar pelo acusado, a Amazon. Eu não sei se a senhora Ursula sabe, mas esse esquema de valorizar muito um livro “descartável” não é novo e a Amazon não inventou a roda fazendo isso, na verdade, sempre foi um bom jeito de lucrar rápido enquanto livraria. Por isso, eu acho que culpar a empresa foi um erro meio bobo que a escritora cometeu, ela devia estar acusando era a indústria e a estrutura de quase todas as livrarias.
Agora vamos ao ponto principal, Best-Sellers. Ursula diz que o mercado de livros funciona como o de comida: Existem os tentadores e deliciosos livros das listas de mais vendidos, que você vai adorar lê-los, porém, em excesso, vão te prejudicar mentalmente. Isso abre um sem número de questões que chega a me deixar tonto, entre algumas estão: Decretar o que é a literatura que você tem que ler e a que não tem não é uma forma de interferir no livre arbítrio? Se a única coisa que caracteriza um Best-Seller é o fato de todo mundo lê-lo para poder debater com várias outras pessoas, porque justamente os livros que geram menos discussão viram Best-Sellers? E a principal, se a tal da “Escada Literária” realmente existe, porque os Best-Sellers continuam vendendo tanto enquanto o numero de novos leitores é baixíssimo?
A preocupação com a leitura alheia afeta muitos leitores de “literatura adulta”, porque o ser humano quer que todos descubram as maravilhas que ele encontrou lendo os saramagos e gabos da vida, mas são caras que o grande público afirma ser “complicado” de ler simplesmente porque não estão ai para divertir e sim pensar (embora sejam engraçados e emocionantes também) e pelo visto pensar dói. Essa, aliás, foi uma frase que eu já ouvi muito por aí, que brasileiro só gosta de ler por diversão e tem medo da literatura que te confronta. Isso, obviamente, vale para os estadunidenses, provavelmente o povo mais fútil do mundo. Porém, a senhora Le Guin afirma que não tem certeza da veracidade das vendas de um BS. Bem, isso porque ela deve andar com uns amigos muito descolados que estão focados em ler coisas para quebrar a cabeça, porque o que mais tem no youtube é canal de livros girando em torno da moda.
Contudo o livre arbítrio está aí e diferente de comida, essas pessoas poderiam simplesmente não estar lendo, o que é o pior dos casos com toda a certeza. E também tem o que nós poderíamos chamar de vegano dos livros, que são os caras que acham que todo livro YA deve morrer e todos só podem ler livros que tem pelo menos cem anos de vida. Então a solução, como tudo na vida, seria o meio termo: você come seus legumes e verduras, mas também dá aquela sapecada na carne de vez em quando. E é ai que entra a escada literária.
O conceito é simples: conforme vai lendo, você procura cada vez mais livros difíceis, e ai quando se dá conta já está lendo coisas como O Som e a Fúria e Ulysses. É claro que para chegar nesses dois tem que comer muito feijão e arroz literário, ninguém aqui espera que você faça o percurso em um mês, pode botar uns aninhos aí para fazer o percurso saudável e não ficar se matando para ler algo bizarro como Os Lusíadas e esses poemas épicos aí. Eu sou a prova viva de que a escada literária existe. Embora exista muita gente por aí (e eu olhei um monte de perfil no skoob para afirmar isso embora ainda seja um embasamento de merda) que já leu trocentas vezes mais livros comparado a mim, está a anos luz mais tempo que eu no mundo da leitura (provavelmente começou com Harry Potter) e dá para contar nos dedos de uma mão a quantidade de livros que não são YAs ou trilogias/sagas. No meu círculo mesmo, várias pessoas precisaram ser empurradas por mim para lerem coisas mais sérias e saírem desse ciclo de PJ-MR-JV-IM e outras milhões de sagas que todo mundo está lendo.
“Mas Victor, você mesmo acabou de dizer que todo mundo está lendo isso, por que que eu não posso então? Quero ter assunto e não ficar excluído”. Duas coisas: não disse que você não pode ler, disse que você não deveria ler somente isso. Segundo, por que não apresentar um livro que vai gerar uma real discussão em vez de “nossa, se lembra daquela cena? Foi muito foda cara”. E se você acha que só clássicos geram esse tipo de coisa e está com preguiça de lê-los, está redondamente enganado, é só dar uma olhadinha nos posts aqui do blog para ver a quantidade de autor atual com obras para te fazer pensar.
Enfim, o que a Ursula e eu estamos dizendo é: Deixe um pouquinho a diversão "descerebrada" de lado e leia mais livros para te fazer refletir. Existe uma quantidade infinita desses livros e algum deles vai ser para você. Já se diverte demais com tanta coisa, pensar não pode doer tanto assim para se anestesiar o cérebro toda hora.