
Autor: Raphael Draccon
Editora: Leya
Ano: 2012
Páginas: 352
Uma coisa que eu não entendo é porque o Draccon é exaltado por ter indicado a compra dos direitos de Crônicas de Gelo e Fogo à Editora Leya, como se já não fosse sair aqui com o sucesso que a série tem, porém isso não tem nada a ver com o assunto em questão. O fato é que o senhor Raphael é um dos mais conceituados autores da atualidade, já tem sete livros publicados e está inserido na santa trindade dos escritores de fantasia brasileira, ao lado de Spohr e Vianco.
Se eu concordo com esse título? Acho que não faz diferença, visto que foi algo dado pelos leitores e não por um grande crítico ou qualquer merda do tipo. Além do fato de ter lido apenas esse livro do Draccon e meio livro do Vianco, o que, para mim, não quer dizer nada sobre os dois, mas fico triste quando leio isso sabendo que há autores por aí que poderiam assumir essas posições, todavia são menos conhecidos.
Acontece que peguei esse livro já com essas informações a mão e que, ainda por cima, faz referência à minha obra de arte preferida: Sandman escrito por Neil fuckin Gaiman e vários artistas contribuindo para os desenhos dessa genialidade em forma de arte sequencial. Acredito que isso já tenha sido um problema inicial para a obra, eu já tinha noção que não iria ler algo no nível do que Neil Gaiman fez mas não esperava uma completa descaracterização e falta de semancol que é esse romance.
Vamos à sinopse então: "Mikael Santiago realizou o sonho de milhares de garotos. Aos 22 anos era o jogador brasileiro com o passe mais caro da história do futebol. Mas à noite os sonhos o amedrontavam.
Às vezes, o que está por trás de um simples sonho – ou pesadelo – é muito maior que um desejo inconsciente. Há séculos, Madelein, atual madrinha das nove filhas de Zeus, tornou-se senhora de um condado no Sonhar, responsável por estimular os sonhos despertos dos mortais. Uma jogada ambiciosa que acaba por iniciar uma guerra épica envolvendo os três deuses Morpheus, Phantasos e Phobetor, traz desordem a todo o planeta Terra e ameaça os fios de prata de mais de sete bilhões de sonhadores terrestres.
Envolvido em meio a sonhos lúcidos e viagens astrais perigosas, a busca de Mikael pelo espírito da mulher amada, entretanto, torna-se peça fundamental em meio a uma guerra onírica. E coloca a prova sua promessa de ir até o inferno por sua amada." (Peguei a sinopse do Skoob porque não conseguia criar uma já que esse livro é uma salada da porra).
Eu vou direto ao ponto e dizer quais são os problemas do livro. O personagem principal é raso que nem uma poça, dá para resumir tudo que ele é e gosta em poucas palavras: gosta de futebol, Harry Potter e Sandman, não gosta de Senhor dos Anéis, é obstinado, mas muito lerdão. Já a sua namorada, Ariana, tinha uma personalidade mais sólida e parecia ser uma mulher forte e interessante, mas seu sotaque horrivelmente mal emulado dá raiva e ainda mais revoltante é ver o escritor jogando ela de parceira com carisma para mocinha indefesa.
As coisas ficam piores para o lado onírico da coisa. Quem já leu Sandman sabe que nada é resolvido no sopapo, Morpheus não dá um soco durante toda a saga no gibi e tudo é construído para ser algo inteligente e surpreendente. Já nesse Reconstruindo Sandman, Draccon usa o mundo dos sonhos para fazer uma guerra gigante de tudo que é elemento possível para cair na porrada numa bagunça extremamente mal narrada. Tem de tudo mesmo: samurais, dinossauros, jedis, demônios, robôs, o que você quiser. Essa guerra não é aproveitada e Draccon prefere focar as 300 páginas dessa batalha em lutas a lá dragonball dos irmãos do sonhar, algo totalmente broxante para quem estava achando que ele pretendia levar a obra que o inspirou a sério.
É claro que tem mais, Mikael vai para um tipo de santuário treinar para ser o Zé Fodão dos sonhos e tudo que ele faz com esse treinamento é cortar meia dúzia de capangas em um certo momento do livro, porque quem resolve todas as paradas é a tal da Madelein. A cereja no bolo de merda que é esse livro é o final da guerra, sobre o qual obviamente não darei spoiler, e só vou dizer que, além de ser completamente copiado de um dos arcos de Sandman, foi tão mal feito que fica com cara de Deus Ex Maquina e faz parecer que você leu todas aquelas batalhas porque o escritor queria deixar o livro dele mais grosso mesmo, simples assim.
Eu recomendo para quem leu Sandman e gostou que passe longe dessa obra, porque ela chega a ser desrespeitosa e não merece o subtítulo que tem. Quem não leu pode ter mais chances de gostar, mas eu diria para tentar outra coisa do Draccon primeiro. E antes que comecem nos comentários: não, eu não odeio os escritores nacionais, também não odeio a fantasia nacional, muito menos o Raphael Draccon. Só acho que não devo deixar de falar que uma obra é ruim só porque o autor é brasileiro. Espero gostar mais do próximo livro que ler dele, mas, por enquanto, acho que ele não merece a farda que veste.