AUTOR: Mario Bellatin
EDITORA: Cosac Naify
ANO DE PUBLICAÇÃO: 2009
ANO DA EDIÇÃO: 2009
PÁGINAS: 84
Então, depois da dose que foi Cães Heróis, era de se esperar que de Bellatin nós só iríamos querer distancia para manter essa insanidade longe de nós. Mas olha ele aqui de novo. Porque eu simplesmente sou fã dessas loucuradas e em Flores fui procurar o que o artista mexicano pode oferecer de melhor: maluquices com pessoas esquisitas. Foda é que isso já acaba com a obra do mexicano-peruano em circulação aqui no brasil. E essa “obra em circulação” mal dá 50 paginas num livro normal. Fazer o que né?!
Então vamos para a sinopse (provavelmente a parte mais difícil de um livro surrealista): Aqui nós acompanhamos a jornada do Escritor, um islâmico praticante sem uma perna que está na cidade a fim de documentar o máximo possível de seitas religiosas e formas de se fazer sexo, para poder escrever um livro sobre essa questão. Acompanhamos também o senhor médico que descobriu um problema em um medicamento que reduzia a dor e o enjoo na gravidez, que tinha como efeito colateral a má formação do feto, fazendo com que várias crianças nasçam com membros do corpo faltando, entre outras histórias.
Cada capítulo é na verdade um parágrafo, assim como no Sangue no Olho, e cada parágrafo é nomeado com uma flor. Bellatin diz no começo do livro que a ideia do mesmo era que cada capítulo fosse individual, uma história própria para se contar, e ao mesmo tempo construindo uma narrativa com essas pétalas, coisa que fez lindamente. Eu penso que todas as flores que dão nome têm um porquê, às vezes porque são parte do cenário, outras porque transmitem uma sensação que o capítulo também quer passar, e as últimas por motivos incompreensíveis ao meu reles intelecto.
Todos os personagens do livro parecem estar a margem da sociedade, exceção talvez feita pelo médico, que mesmo assim combate o próprio sistema com a sua descoberta e denúncia, o que o torna um pária ante os seus iguais e empresários do ramo. Além dos dois citados na sinopse, ainda há um pequeno número de histórias dentro do próprio livro que traz a tona temas comuns do cotidiano, mas que resultam em finais fora do normal. Apesar de tudo, esse livro não é tão surreal quanto o outro, na verdade sua pitada esquisita são seus personagens não ortodoxos e sua montagem, nada muito além disso, e por isso mesmo uma melhor porta de entrada para a literatura de Bellatin, além de ser melhor que Cães Heróis.