Autor: Italo Calvino
Editora: Companhia de Bolso
Ano: 2005
Páginas: 120
Italo parecia ser um cara muito legal para se andar no recreio, quase um Borges não fascista, entendia demais de livros, adorava a literatura fantástica, escreveu uma quantidade gigante de livros, fez umas coisas com a forma de escrever sensacionais, que nem Joyce conseguiu cobrir naquele livrão dele. Organizou coletâneas de contos, escreveu um monte de coisa sobre a literatura, e coisas sensacionais como esse livrinho. Melhor pessoa, apenas.
Vamos ao que trata O Cavaleiro Inexistente: Agilulfo Emo Bertrandino dos Guildiverni e dos Altri de Corbentraz e Sura é um dos grandes paladinos que luta ao lado de Carlos Magno, e se distingue dos outros companheiros por vários motivos, seja por sua armadura reluzente e livre de arranhões, total cuidado com as questões da caravana e, claro, o fato de não ter nada dentro da armadura. Neste relato de uma freira que se põe a escrever como trabalho para o convento é narrado as aventuras do cavaleiro inexistente e seus parceiros de guerra.
Calvino dá uma de irmãos Wayans e zoa todo tipo de livro de cavalaria que você já leu por aí, a começar por Agilulfo: para um cavaleiro branco ser tão perfeito como ele, que cumpre todas as suas obrigações certinho, se mantém glorioso e sem um arranhão sequer, só pode... Não existir! E o italiano não poupa nenhum aspecto, mesmo sendo apenas uma novelinha: ataca as batalhas, as donzelas em perigo, os grandes guerreiros, os pacatos vilarejos e até as ordens sagradas. Nenhum personagem está na trama sem representar uma quebra no clichê, mas diferente dos criadores de As Branquelas, Calvino não deixa de abrir mão da profundidade dos personagens principais para fazer toda essa história rocambolesca.
O carcamano se desafia na escrita ao tentar fazer um humor com palavras um pouco mais rebuscadas, claramente para criar o clima de época, o que é necessário e bem sucedido. Outro ponto é a velocidade da resolução das situações na trama, o que dá a essa pequena novela todos esses pontos sem perder a qualidade.
Este livro faz parte de uma trilogia chamada Nossos Antepassados, que tem como ligação apenas o fato de serem ficções históricas não ortodoxas, e vamos combinar que o melhor tipo de trilogia é justamente esse né? Ninguém aguenta mais aquelas histórias intermináveis custando o olho da cara. Melhor ainda quando saem na versão de bolso e ficam mais baratas, principalmente se for pela Companhia, que tem a melhor qualidade no quesito livros de bolso. Essa capa ótima deixa tudo mais bonito. Aproveitem as risadas da terra do espaguete sendo servidas.