Autor: Amós Oz
Editora: Companhia de Bolso
Ano: 2014
Páginas: 272
Outra coisa a ser elucidada é que o senhor Amos Oz também é asiático. Mas não tem olho puxado. Bug no cérebro de certas pessoas, eu sei. O homem veio de Israel, que fica na Ásia, pois é. Mas é que nem Europa. Até porque, só tem judeu lá. O senhor Oz também tem outras particularidades: é um dos autores mais cotados para ganhar o Nobel de literatura, mas ainda não rolou, e gosta de fazer os seus romances dos jeitos mais diversificados possíveis, por exemplo, esse mesmo.
“Ué Victor, primeiro você diz que vamos falar de poesia e agora diz que é um romance?” Calma negada, vamos pela sinopse primeiro: a trama é centrada em três personagens, que geram três triângulos amorosos que se entrelaçam, o pai Albert Danon, um contador de Tel Aviv que acabou de perder a esposa; seu filho Rico, que depois da morte da mãe foi para as montanhas do Tibet para se isolar; e Dita Inbar, namorada/ficante de Rico que não tem problemas em ficar com outras pessoas e acaba tendo que morar com Albert.
O que acontece: o livro é feito de capítulos curtos, escritos em forma de poesia. O Amos Oz vai levando essa pegada poética e minimalista durante a obra inteira, o que exige um grande trabalho do artista e que me chamou muito a atenção enquanto lia. Eu diria que O Mesmo Mar é o melhor livro para começar a ler poesia, porque os poemas são muito mais focados na história e não exigem o conhecimento prévio dos 834823483 movimentos artísticos que influenciaram o livro em suas mãos.
Acredito também que na tradução se perdeu muito da forma poética. Por ser, apesar de tudo, uma narrativa e ser traduzido do hebraico, muitos poemas ficaram com rimas livres, o que me pareceu muito simples para um livro que se compromete a fazer poesia enquanto narra algo.
O livro também tem alguns probleminhas a meu ver, e outras coisas mais pessoais: é uma obra de realismo mágico, e como sempre tende a ter as mesmas características que o Borges fundou, como o metatexto (em certo momento o narrador entra no meio da história e chega até a conversar com personagens), o duplo (a mãe de Rico com a prostituta que ele conhece nos Alpes), entre outras discussões, como a questão da perda e da morte, a solidão e a velhice, o relacionamento aberto entre casais, a mesquinhez de certas pessoas com relação a arte agravada pelo fato de esses senhores as vezes trabalharem no meio. Porém, o livro é intrinsecamente ligado ao fato de ser uma história de personagens, e eu não consegui me relacionar bem com nenhum deles, no máximo a Dita, mas eu achei que a ideia de se utilizar da poesia comprometeu um pouco o desenvolvimento dos mesmos, justamente por não ter espaço para desenvolver os 8 personagens da forma devida. Não que o Amos não tente, ele se utiliza de muita metáfora para isso, mas eu não achei que foi o suficiente para entender os outros dois caras que estão a fim da Dita, ou o que o Rico queria ao andar por aí além de se isolar, coisas assim. Pode ter sido só eu, e por isso eu acho que você deveria ler para conferir.
Vou falar do projeto gráfico porque andei evitando repetições e vocês já devem ter esquecido: Essa capinha é meio furreca, só pinceladas de verde e azul, mas serve. O papel é o mesmo que de uma edição normal, a letra é uma fonte menor do que o dos comuns, a capa tem uma resistência decente, essas coisas assim, já disse que é a melhor coleção de bolso que tem porque ainda é um livrinho com características decentes. É isso que tem por hoje galera.