Autor: Robert W. Chambers
Editora: Intrínseca
Ano: 2014
Páginas: 256
Antes de qualquer coisa, vamos primeiro falar de como a perspectiva muda com relação à série depois que você lê os quatro contos que compõem a obra do Rei de Amarelo: a série, que antes me parecia mais existencialista do que qualquer outra coisa, começa a ganhar mais aspectos de terror depois que você descobre como as pessoas ficam quando leram a peça. O conto do Reparador de Reputações particularmente parece ser o mais influente com relação à serie, fora os vários easter eggs que aparecem aparecem por lá, como os dois sóis refletidos no final do segundo ou terceiro episódio, não lembro exatamente agora.
Agora podemos ir à obra: o livro tem dez contos, quatro deles a ver com a peça O Rei de Amarelo, dois são de “transição” e outros quatro que são chamados tetralogia das Ruas. Também tem vários comentários do tradutor e um prefácio, falando das referências que existem no texto e que obras foram influenciadas pelos contos.
Obviamente, estamos interessados nos quatros primeiros ao comprar esse livro, que são também o ponto alto do mesmo. A forma como são construídos e interligados é muito intrigante, podemos ver as várias influências que a peça de teatro pode ter no ser humano e também alguns elementos sobrenaturais muito interessantes, destaque para O Emblema Amarelo, que tem o melhor elemento de terror e a função de unir tudo. Porém, aqui já vemos que a habilidade da escrita do senhor Chambers não é a das melhores, exagerando nos adjetivos e fazendo péssimas metáforas, como por exemplo, na que ele compara um livro com a capa feita de pele de cobra com uma... cobra.
Os dois de transição são diferentes de todos outros, inclusive entre si. O primeiro é onde um viajante fica perdido e encontra uma bela domadora de falcões, e o segundo na verdade não é um conto, mas sim o que o tradutor chama de “poesias proseadas”. Enquanto o primeiro reúne os elementos dos dois extremos do livro, romantismo e fantasia, ele não chama a atenção em nada, apenas um melodrama fantasioso. Já o outro é interessante pela forma com que é construído, trazendo um pouquinho de novidade depois dos outros cinco, e todas as prosas parecem ter ligação com os outros contos, o que te deixa desafiado a entendê-los e ligá-los.
Na última parte, O Quarteto das Ruas vem para mostrar que Robert Chambers deveria ter focado os outros trabalhos dele em escrever terror, porque os quatro melodramas estilo Rubi e Maria do Bairro estão entre as piores coisas que eu li esse ano. Personagens inocentes, pessoas que se consideram erradas por serem vulgares e querem se arrepender, amores eternos e incompreendidos, tudo isso regado com a já citada falta de habilidade da escrita de Chambers que só serve para você conhecer um pouquinho mais a França, e para isso basta comprar um guia turístico.
A edição pelo menos é lindíssima, tem um formato mais quadrado, as letras um pouco miúdas, mas tem umas páginas pretas para dar o clima da história no começo de cada conto, que foi uma ótima sacada da intrínseca, fora essa capa maravilhosa com uma representação do Rei de Amarelo. È isso gente, compre para finalmente conhecer a historia por trás do Rei e pare por aí, mas caso você se sinta na obrigação de terminar o livro assim como eu, prepare-se para o sofrimento.