Autor: Murilo Rubião
Editora: Companhia de Bolso
Ano: 2010
Páginas: 232
Rubião é um cara peculiar: escrevia fantasia antes mesmo do movimento do Realismo Mágico latino-americano, se tornando o precursor sem nem saber. Publicava muito nas revistas mineiras, e a escassez desse tipo de revista faz muita falta atualmente, pois era um ótimo meio para se descobrir novos escritores, e também é bom lembrar que grandes autores publicaram em folhetim, como por exemplo Dostoiévski, Bashevis Singer, H. P. Lovecraft, Issac Asimov, entre outros.
Todos os contos do Rubião vão em direção a desvendar a alma humana no seu íntimo, como, por exemplo, O Coelhinho Teleco, um bicho que pode se metamorfosear no que quiser e que, por isso, sente que não tem uma identidade própria, ou Barbara, conto em que toda vez que o marido satisfaz a esposa, ela fica mais gorda. Há também uma vertente do que eu chamo de Realismo Absurdo, que é quando toda obra me lembra Esperando Godot, logo se classifica no teatro do absurdo e aí entra na nova categoria que eu mesmo criei. Porque bom critico é assim, ele inventa novas regras inúteis só para ter o nome lembrado no futuro. Um dos exemplos é o meu conto preferido, A Cidade, em que um turista é preso por ficar fazendo perguntas. Outro é uma das melhores histórias de amor sem sentido que eu já li, Elisa. Daria para falar de mais um monte de contos, mas aí vocês não vão ter surpresa nenhuma né?!
Saber que o Rubião ficava mudando as palavras dos seus contos não reflete muito na leitura, porque quando você pensa num autor que destrói na escrita, pensa na prosa poética de Valter Hugo Mãe, no jorro de palavras de Caio Fernando de Abreu, ou de um estilo totalmente próprio como um Saramago, isso só para ficar nos escritores da língua portuguesa. O mérito do Rubião está mais nas ideias do que na escrita, apesar de escrever de uma forma simples e direta e lidar tão bem com as palavras para mostrar coisas complexas como um edifício infinito e funcionar tão bem. Assim como Schulz, prepare para não entender tudo que lê, porque tem uns contos que eu vou te contar viu, não fazem o menor sentido para mim ainda.
Muito triste saber que a obra completa do homem só pode ser encontrada num livro de bolso, porém os da Companhia são provavelmente os mais bem feitos, a capa não é molenga e o papel ainda é o pólen, o melhor papel para leitura que tem. A capa é que falha um pouco no meu gosto, pois odeio capa de foto do autor, e a coleção de bolso da companhia tem umas capinhas tão lindas que essa não chega nem perto. Leiam Rubião e vamos viajar juntos nesse realismo mágico brasileiro.