Por: Victor Heliângelo
HENRY & JUNE
AUTORA: Anaïs Nin
PUBLICAÇÃO ORIGINAL: 1986
ANO DA EDIÇÃO: 2008
EDITORA: L&PM Pocket
PÁGINAS: 256
AUTORA: Anaïs Nin
PUBLICAÇÃO ORIGINAL: 1986
ANO DA EDIÇÃO: 2008
EDITORA: L&PM Pocket
PÁGINAS: 256
Novidade no site: agora quando me der na telha, eu também vou resenhar livros de não-ficção, embora eu não me sinta a pessoa mais capacitada para isso. O motivo? Eu não posso deixar de falar de um dos melhores livros que eu já li e que já é forte candidato entre os melhores desse ano, e estou falando desse livrinho aqui mesmo, Henry e June, de Anaïs Nin, esse mulherão da porra.
Anaïs Nin foi uma francesa, filha de pais de ascendência espanhola, criada em Cuba e nos Estados Unidos. Manteve um diário desde os 12 anos, fez uma quantidade de loucuras inacreditável, escreveu vários contos e romances eróticos, que eu ainda não li mas que com certeza não devem ser daqueles tipos de romance erótico de banca, e sim algo muito mais complexo, chocante e bem escrito. Além disso, ela teve um monte de problemas na infância que, como sempre (mas nesse caso é real) resultaram em umas coisas que eu vou deixar para comentar daqui a pouco.
Vamos ao livro: Henry e June narra a época em que Anaïs conhece o escritor Henry Miller e sua esposa, June Miller, e passa a trair o marido com o grande artista americano, ficando, na realidade, apaixonada por June. Junto a isso temos a viagem ao interior de sua mente, suas descobertas sexuais, idas ao psicanalista, outros vários amantes que Anaïs arruma e a explicação interna para continuar com o seu marido, Hugo.
Quando eu abri esse livro, eu não estava esperando nada. Nada mesmo. Eu só queria uma coisa: relaxar. Eu acho que eu estava querendo ler um New Adult, dar umas risadas e ler umas cenas picantes. Mas o que eu encontrei foi uma sessão de boxe onde eu era o sparring do Muhammad Ali furioso e nesse caso eu simplesmente não tinha braços. Foi um soco na cara atrás do outro. Anaïs não tem o menor problema em se expor e mostrar o que o ser humano, principalmente o ser humano escritor e mais ainda aquele que acha que tem escrúpulos (e mentindo para si mesmo), tem de pior. Tudo é ridiculamente chocante, a começar pelo fato de que eu de vez em quando esquecia que estava lendo um diário, algo que aconteceu porque li coisas que só poderiam ter acontecido na ficção.
Já vi vários artigos sobre escritor ser um filho da puta. Por exemplo, esse pequeno quote que eu adoro do senhor Thomas Bernhard: “A verdade é que sempre detestei os cafés de Viena, pois lá sou confrontado com pessoas como eu, e naturalmente não gosto de ser sempre confrontado com pessoas como eu, e com certeza não em um café, onde vou para fugir de mim. E, no entanto, é lá que me encontro confrontado comigo e com pessoas de minha estirpe. Eu me considero insuportável e ainda mais insuportável do que eu é toda uma horda de escritores.” Nas poucas entrevistas de Dalton Trevisan, ele sempre diz que o escritor é um filho da puta por não ter dó de expor todos que conhece, mesmo que a máscara ficcional ajude a esconder quem é quem, mas no íntimo seus conhecidos vão saber que você está falando deles e com certeza vão te odiar. Anaïs e Henry justificam vários de seus atos no mínimo controversos afirmando que são experiências para a escrita. Henry, por exemplo, tem uma esposa que só faz mal a ele, mas essa dor e angústia que sofre diariamente é o que “fazem” com que ele escreva bem. Já Anais passa a se abrir sexualmente cada vez mais, primeiro com June, depois Henry, e daí em diante a praticamente qualquer homem que aparece. Ela vai em cabarés com o marido para ver putas transando entre si e mas algumas loucuras em nome da experiência da escrita. Assim como Borges, Nin acredita na separação entre a pessoa e o escritor, só que ela é a pessoa mais confusa do mundo em qualquer situação psicológica ou mente muito para si mesma até nos diários.
Aliás, amor é obviamente um dos temas mais recorrentes aqui, pois tanto Henry quanto Anaïs não sabem exatamente quem amam e o que isso significa para eles. Por exemplo, conforme ela fica mais íntima dele, passa a desejar ficar cada vez mais longe de Hugo, principalmente sexualmente, mas diz para si mesma constantemente que ama Hugo e nunca o abandonaria por Henry, que é só um caso. Chega a dizer que a traição faz bem ao casamento, só faria mal se ele descobrisse tudo. Pesadíssimo. Henry e Anaïs constantemente se ajudam nos escritos, e o americano passa a achar que ama mais Anaïs que June porque ela é também uma companheira intelectual, enquanto June é uma maluca provavelmente viciada em drogas, mas Anaïs sabe que isso não é verdade.
Obviamente existe a parte do sexo falando sobre os desejos e as descobertas sexuais da escritora, que, por exemplo, não sabia que se podia chupar certas partes do corpo durante a transa. Mais para frente, ela fica chocada quando descobre como lésbicas têm prazer, através de um negocinho que fica na parte de cima da vagina (sim, ela não sabia da existência do clitóris, calcule o quão mal esse povo transava naquela época). Veremos altas descrições das transas que ela e Henry protagonizam, e também a tristeza em comparação com as transas de Hugo. Eu ainda fico chocado com o nível de exposição que essa mulher chegou através da publicação desses livros.
Teria muito mais para falar aqui, mas né... Esse post já está gigantesco. O único problema do livro na real é a capa, porque nenhum ser humano pode tolerar uma capa de filme dessa sendo que as outras da coleção da autora pela LP&M são tão boas. De resto vocês já sabem, capa consistentezinha, papel offset branco mesmo, letra pequena porque é livro de bolso, mas um livrão em todas as outras proporções.
Anaïs Nin foi uma francesa, filha de pais de ascendência espanhola, criada em Cuba e nos Estados Unidos. Manteve um diário desde os 12 anos, fez uma quantidade de loucuras inacreditável, escreveu vários contos e romances eróticos, que eu ainda não li mas que com certeza não devem ser daqueles tipos de romance erótico de banca, e sim algo muito mais complexo, chocante e bem escrito. Além disso, ela teve um monte de problemas na infância que, como sempre (mas nesse caso é real) resultaram em umas coisas que eu vou deixar para comentar daqui a pouco.
Vamos ao livro: Henry e June narra a época em que Anaïs conhece o escritor Henry Miller e sua esposa, June Miller, e passa a trair o marido com o grande artista americano, ficando, na realidade, apaixonada por June. Junto a isso temos a viagem ao interior de sua mente, suas descobertas sexuais, idas ao psicanalista, outros vários amantes que Anaïs arruma e a explicação interna para continuar com o seu marido, Hugo.
Quando eu abri esse livro, eu não estava esperando nada. Nada mesmo. Eu só queria uma coisa: relaxar. Eu acho que eu estava querendo ler um New Adult, dar umas risadas e ler umas cenas picantes. Mas o que eu encontrei foi uma sessão de boxe onde eu era o sparring do Muhammad Ali furioso e nesse caso eu simplesmente não tinha braços. Foi um soco na cara atrás do outro. Anaïs não tem o menor problema em se expor e mostrar o que o ser humano, principalmente o ser humano escritor e mais ainda aquele que acha que tem escrúpulos (e mentindo para si mesmo), tem de pior. Tudo é ridiculamente chocante, a começar pelo fato de que eu de vez em quando esquecia que estava lendo um diário, algo que aconteceu porque li coisas que só poderiam ter acontecido na ficção.
Já vi vários artigos sobre escritor ser um filho da puta. Por exemplo, esse pequeno quote que eu adoro do senhor Thomas Bernhard: “A verdade é que sempre detestei os cafés de Viena, pois lá sou confrontado com pessoas como eu, e naturalmente não gosto de ser sempre confrontado com pessoas como eu, e com certeza não em um café, onde vou para fugir de mim. E, no entanto, é lá que me encontro confrontado comigo e com pessoas de minha estirpe. Eu me considero insuportável e ainda mais insuportável do que eu é toda uma horda de escritores.” Nas poucas entrevistas de Dalton Trevisan, ele sempre diz que o escritor é um filho da puta por não ter dó de expor todos que conhece, mesmo que a máscara ficcional ajude a esconder quem é quem, mas no íntimo seus conhecidos vão saber que você está falando deles e com certeza vão te odiar. Anaïs e Henry justificam vários de seus atos no mínimo controversos afirmando que são experiências para a escrita. Henry, por exemplo, tem uma esposa que só faz mal a ele, mas essa dor e angústia que sofre diariamente é o que “fazem” com que ele escreva bem. Já Anais passa a se abrir sexualmente cada vez mais, primeiro com June, depois Henry, e daí em diante a praticamente qualquer homem que aparece. Ela vai em cabarés com o marido para ver putas transando entre si e mas algumas loucuras em nome da experiência da escrita. Assim como Borges, Nin acredita na separação entre a pessoa e o escritor, só que ela é a pessoa mais confusa do mundo em qualquer situação psicológica ou mente muito para si mesma até nos diários.
Aliás, amor é obviamente um dos temas mais recorrentes aqui, pois tanto Henry quanto Anaïs não sabem exatamente quem amam e o que isso significa para eles. Por exemplo, conforme ela fica mais íntima dele, passa a desejar ficar cada vez mais longe de Hugo, principalmente sexualmente, mas diz para si mesma constantemente que ama Hugo e nunca o abandonaria por Henry, que é só um caso. Chega a dizer que a traição faz bem ao casamento, só faria mal se ele descobrisse tudo. Pesadíssimo. Henry e Anaïs constantemente se ajudam nos escritos, e o americano passa a achar que ama mais Anaïs que June porque ela é também uma companheira intelectual, enquanto June é uma maluca provavelmente viciada em drogas, mas Anaïs sabe que isso não é verdade.
Obviamente existe a parte do sexo falando sobre os desejos e as descobertas sexuais da escritora, que, por exemplo, não sabia que se podia chupar certas partes do corpo durante a transa. Mais para frente, ela fica chocada quando descobre como lésbicas têm prazer, através de um negocinho que fica na parte de cima da vagina (sim, ela não sabia da existência do clitóris, calcule o quão mal esse povo transava naquela época). Veremos altas descrições das transas que ela e Henry protagonizam, e também a tristeza em comparação com as transas de Hugo. Eu ainda fico chocado com o nível de exposição que essa mulher chegou através da publicação desses livros.
Teria muito mais para falar aqui, mas né... Esse post já está gigantesco. O único problema do livro na real é a capa, porque nenhum ser humano pode tolerar uma capa de filme dessa sendo que as outras da coleção da autora pela LP&M são tão boas. De resto vocês já sabem, capa consistentezinha, papel offset branco mesmo, letra pequena porque é livro de bolso, mas um livrão em todas as outras proporções.