Olha a novidade (não tão) fresquinha galera! Revistas de contos também são literatura e podem ser avaliadas pela minha opinião sem nenhum embasamento também! Na real agora, vamos falar um pouco sobre isso antes da resenha em si. Em um podcast do Cabulosocast que eu não lembro direito qual foi, mas provavelmente deve ter sido o sobre a Trasgo e a Black Rocket, duas revistas digitais de Ficção Cientifica, os participantes disseram que simplesmente não existe ninguém fazendo crítica das revistas literárias do Brasil, e embora eu não possa confirmar categoricamente essa afirmação, acredito ser uma verdade. Essa falta de valorização dos blogueiros e dos críticos mais renomados pelo que se faz nesse tipo de publicação é o que faz o mercado ficar mais fechado e surgir cada vez mais pessoas aparentemente sem mérito sendo publicado por aí, porque não se tem o incentivo e a palavra de ajuda vindo de alguém de fora do processo, e então as revistas literárias vão ficando cada vez mais obscuras, uma pena.
Porém, não aqui e não hoje! Então vamos falar da revista de um dos melhores sites literários do país, a Pulp Fiction do Homoliteratus! E por que começar pela 2? Porque eu estava com preguiça de reler a primeira hauhaehuae, um erro certamente perdoável já que ela saiu em novembro/dezembro, e nem tinha o blog ainda, por isso o timing já passou. Mas caso você goste da número 2, vá ler a primeira para ver como foi o começo de tudo! Só duas coisinhas antes das resenhas: todas vão ter spoilers porque, bem, é só você ler os contos aqui, e depois vir conferir minha opinião; e vou dividir em duas partes porque se não esse post ficaria imenso, só com esses dois parágrafos eu já estou achando ele meio grande. Enfim, vamos as análises.
1 – Bartolomeu, por Bruno Ribeiro
Quando eu li esse conto, pensei se ele poderia estar aí servindo para abaixar as suas expectativas com o conteúdo da revista, porque ele é muito decepcionante. Ribeiro escreve o conto muito bem, utiliza frases curtas e vai direto ao ponto, é eficiente na construção do cenário (embora fique colocando aquela parada de dimensão de lâmpada e ladrilho que eu não tenho a menor ideia para que sirva) e em colocar informações sobre os personagens de uma forma sutil e incrível, mas simplesmente está contando uma história extremamente ruim. Seu personagem se apresenta como um assassino modelo, ou seja, ele não precisa da sua empatia, e então ele fica falando mal de Legião Urbana, deixando bem claro que ele não quer sua empatia. Até ai tudo bem, dado que seria bem legal ver esse personagem escroto se fodendo no final, mas ele executa sua missão numa boa, sem o menor contratempo, fazendo com que o conto não tenha graça nenhuma, visto que nem luta direito se tem, e o plot twist final é simplesmente a namorada terminando com ele, uma relação que não existe a menor chance do público se importar, já que ela aparece em algumas linhas de diálogo no começo e o amor do senhor modelo nunca ser mostrado, você só infere que ele gosta dela porque ele a chama de “meu amor” duas vezes, e nós sabemos que uma regra básica de uma boa historia é o famoso “show don’t tell”. Então ficamos com um plot twist que não pode nem se chamar de mal-construído, porque não teve construção nenhuma, e um assassinato sem graça e sem importância. Ótimo escritor, péssimo conto.
2 – A Sereia, por Cabral Correia
Aqui nós temos um conto simples e eficiente, Correia não inventa firulas e pega as quatro páginas que tem para construir um roteiro divertido e direto, a triste saga de Raul em busca de uma transa paga tem uma virada fácil de se adivinhar (afinal, só são apresentados os três personagens na trama), mas o bom senso do autor de não escrever isso com todas as letras no final e a motivação de Raul para essa jornada e todas as suas preocupações bobas te fazem dar risada e ganham o meu joinha, embora eu ainda esteja e esperando algo realmente expressivo nessa revista.
3 – Mundo Cão, por Jussiê Torres
Torres apresenta uma história mais bem traçada do que as anteriores, um dia difícil de uma dupla de policiais, com uma sacada bem legal de representar o que está acontecendo na jornada de trabalho deles através do jogo que estão acompanhando pelo rádio. Se retirado do conto, não faria a menor diferença, mas torna o clima menos rígido quando necessário e soa natural, então eu diria que foi uma escolha acertada. A trama é bem conduzida e você sente que conseguiu te deixar tenso na cena do descarregamento da arma, mas o discurso moral que o ajudante dá no final podia ter sido tirado porque a meu ver é muito piegas. Mesmo assim, o melhor conto até agora, embora ainda esteja esperando algo mais sólido. Aliás, todos os contos até agora tem temática urbana realista com um quê de policial, parece até que essa parte da revista também é temática.
4 – Carlos e o Rei, por Led Franzoso
Chegamos no ponto que realmente me deixou animado com a revista, Led nos entrega aqui de uma forma capciosa um tipo de conto que é onde os escritores iniciantes mais se aventuram e quebram a cara, o suicídio. Entregando um personagem que sente que conquistou o mundo e está solitário, Franzoso nos conduz a uma trama aparentemente realista, mas insana, de um jogo da morte, e usando elementos que lembram Clube da Luta, de Palahniuk, e mesmo que você saque no meio da trama, ainda fica curioso para ver como tudo realmente vai acabar. Ganha ainda mais pontos extras por fugir do tema recorrente dos outros contos.
5 – Dois Tipos de Pessoas, por Vilto Reis
Chegamos ao último conto dessa parte, e mais uma vez temos a temática realista urbana de veio policial, mas Vilto Reis, também editor da revista, é o escritor com mais habilidade e técnica dessa edição e por isso nós relevamos esse fato. Acho engraçado ver mais referências cinematográficas que literárias aqui (a primeira cena é praticamente igual a uma cena do filme citado na epígrafe) de um cara que lê tanto, mas a carga literária fica evidente na leveza da condução do texto, na simplicidade e sutileza das frases curtas e diretas (a cena da morte do vendedor é uma aula em três frases) e na boa construção de dois personagens em menos de cinco páginas. Enfim, a trama não chega a ser melhor do que a quarta, mas Vilto Reis é o escritor com mais potencial na minha opinião. Pelo menos dessa parte.
É isso gente, espero que tenham curtido as mini resenhas, se conscientizado da importância de ficar futucando o que está saindo de novo por aí, principalmente por esses projetos literários tão legais, e incentivar nem que seja dando a sua opinião para ver se alguém tira algum proveito dela. Até a próxima parte.