AUTOR: Marcelo Mirisola
ANO DE PUBLICAÇÃO: 2016
ANO DA EDIÇÃO: 2016
EDITORA: Editora 34
PÁGINAS: 88
Poucas pessoas sabem, mas a 34 também publica livros totalmente novos no mercado, e não apenas traduções antigas (e alguns russos nem tão antigos). Foi vagando por essa área que eu descobri Marcelo Mirisola, autor que, até o momento em que topei com o livro era completamente desconhecido para mim, e que peguei para ler apenas confiando no carimbo da editora, que, tendo um catálogo tão bom, não poderia errar com as escolhas brasileiras também né?!
Então vamos à sinopse da novelinha: Luis teve a melhor adolescência do mundo na sua própria opinião, onde conheceu a mulher da sua vida, ouviu muito Renato Russo cantando na Legião Urbana e seus covers, comprou all-stars vermelhos com sua namorada para representar a união eterna dos dois e muito mais. Contudo, desde o seu casamento as coisas vêm mudando para pior, com a sua mulher fazendo o que quer da vida se esforçando para destruir a vida de Luis e de todos que estão perto dele, fazendo o professor de matemática cavar cada vez mais fundo o seu buraco.
É a primeira vez que a minha principal reclamação com um livro é: queria que tivesse mais. Não que o autor tenha corrido com o final, ou que tenha faltado esclarecer coisas, mas simplesmente era tão divertido que eu poderia ter lido mais cem páginas de experiências sexuais do Luis e o livro continuaria maravilhoso. Mirisola assina nesse livro uma crítica à geração atual sem pompa nem circunstância, mostrando as duas vertentes correndo no mesmo homem: a busca pelo prazer eterno sem responsabilidade e o fanatismo religioso enfurecido. Luis e Natasha se traem, a princípio sem problemas para nenhum dos dois, até Natasha começar a jogar isso na cara de Luis, fazem menages sempre que podem (rendendo cenas engraçadíssimas) e discutem por várias vezes no livro (é mais Natasha gritando e xingando todos ao redor, e Luis só ouvindo, mas enfim) por não se entenderem mais como casal. Essa destruição de Luis até o fundo do poço resulta em sua ascensão moral através da religião, onde ele canaliza todo mal do mundo em sua mulher-belzebu.
A escrita em primeira pessoa revela como o protagonista é passivo diante da situação, e nas poucas vezes que reage toma atitudes que mais prejudica a ele mesmo que Natasha, gerando uma falta de imposição lamentável no personagem, o que o torna cada vez mais perdedor durante a leitura. Mirisola acerta muito na sua escrita aliás, fazendo relações ótimas e metáforas com as letras da Legião Urbana e com bandas covers, mostrando cada vez mais o ridículo e a falta de real sentido das relações.
O livrinho da 34 é fino e clean, a escolha da capa é um lugar-comum da editora já, usando a cor branca e mais uma para dividir a imagem, nesse caso o verde mais escuro. O que acabou me chamando a atenção para essa obra a ponto de pegá-la para ler, foi a pequena foto de um frame do filme original do Godzilla, que me parecia completamente perdido na diagramação e me deixando curioso. É isso pessoas, descubram bons autores nacionais e lembrem-se que a vida não tem cura.