AUTOR: Roberto Arlt
ANO DA EDIÇÃO: 1997
EDITORA: L&PM Pocket
PÁGINAS: 98
Robertinho é considerado o Lima Barreto (o próximo homenageado da Flip, finalmente né, aliás eu vou nesse ano, quem vem?) da Argentina, o que para mim não é pouca merda, já que Lima Barreto é o influenciador secreto de vários escritores maravilhosos dentro da literatura brasileira, e o mesmo acontece com Arlt em seu país, de acordo com Bolaño. Ambos foram julgados como escritores ruins na sua época, o clássico incompreendido, justo por não ficar enrolando e atacar o problema de frente, e isso de todos os modos possíveis, tanto na estilística quanto na política e na sociedade. Conviveram com marginais e escreveram sobre eles, e,m por essa falta de medo do que a academia pensa, Arlt foi o primeiro a trazer o gênero policial, considerado menor durante muito tempo, para a América Latina.
Mas apesar dessa punheta toda, quando você pega a obra para ler, ela não tem nada de mais. São uns sete contos com uma estética até moderna (nada de quarto fechado e detetives cabeçudos), mas nenhum acrescentando muito à sua vida como leitor. A escrita tem um ar de comum: não é demasiadamente seca como Hemingway, não é floreada como Joyce, não enche linguiça informacional como Mann, e às vezes soa até como canastrona, o que pode resultar em algo cômico, como visto no final do primeiro conto, ou pode ajudar a não manter a rigidez, que é o caso do segundo conto onde a tensão é alta desde a primeira frase.
As histórias são velozes, todas sobre ladrões ou cidadãos pacatos passando por situações absurdas, e entre os meus preferidos estão o já citado segundo, onde um estudante argentino de Harvard é sequestrado por ladrões para projetar uma roleta que faça a bolinha cair no lugar que eles querem, e o quarto, onde um assassino é mandado para pegar uma outra assassina que pode ter traído a confiança do seu chefe. Mas nenhum conto ofende, é um ótimo livro para passar o tempo e conhecer um pouco da literatura latino-americana.
A edição que eu tenho da L&PM é bem antiga, porque eu comprei em um sebo, mas era do tempo em que a editora de bolso usava papel pólen ao invés do offset, então quem se deu bem nesse caso fui eu (fora ter pago 5 reais né?!). A capa é maneiríssima também, um desenho muito noir e muito trabalhado no contraste preto e branco de um homem com uma pistola, mas eu não sei se essa é a capa que está sendo vendida por aó também, então talvez vocês tenham se fodido. O que não muda, e o que é importante aqui, são os contos de Roberto Arlt.