AUTOR: David Foenkinos
PUBLICAÇÃO ORIGINAL: 2014
ANO DA EDIÇÃO: 2017
EDITORA: Bertrand Brasil
PÁGINAS: 240
*Exemplar cedido pela editora.
A sinopse é basicamente uma tentativa de romancear a vida de Charlotte Salomon, pintora alemã judia que aos 26 anos foi morta em Auschwitz, grávida de 5 meses. Só que o desfecho trágico não foi o único dos problemas da vida de Charlotte, que sofreu como poucos nessa vida. Foenkinos tenta narrar a vida da pintora num estilo quase poético, pulando rapidamente de uma linha para a outra, enquanto também narra a sua pesquisa da vida de Charllote pela Alemanha e França, incluindo informações sobre a construção do livro em si.
Devidamente lido em dois dias, vamos aqui às questões principais do livro: ele é realmente ruim? Sim, o livro não é lá grandes coisas, porque parece que Foenkinos simplesmente pegou uma biografia de Charlotte Salomon e fez um resumo para apresentar. Ele romantiza a história e eu simplesmente preferiria que ele não fizesse isso, porque, sim, ele é melodramático demais. Há uma passagem que mostra perfeitamente o quão exagerado Foenkinos é. Ela se passa logo no começo, quando o autor fala do nascimento de Charlotte:
“Foi um surgimento de uma heroína.
E também de um bebê que chorava sem parar.
Como se não aceitasse seu nascimento."
Talvez esse trecho tivesse algum impacto se todo mundo não soubesse que 99% dos bebês choram sem parar durante o nascimento. Sabendo desse fato, o trecho parece ridículo. Ainda por cima fala que ela é uma heroína, algo que pode até ser verdade, mas não tem a menor necessidade de ser dito no começo da obra, talvez nem no final, porque seria muito mais útil valorizar a artista como ser humano, e não como um ser de uma casta superior, que teve uma vida sofrida porém poética, que era “louca, como todos os gênios”, reforçando um clichê idiota e desnecessário para a literatura do seculo XXI, mas é o que Foenkinos fez e, obviamente, não deu certo.
Porém, eu não posso falar que desgostei dessa leitura por dois motivos: primeiro, foi extremamente rápido. A escrita hiper contida do David (que, aliás, não tem nada de poético além da aparente estrutura) não oferecia desafio nenhum e, por não ter ocupado quase nada do meu tempo, eu fiquei ok com o fato de ter sido ruim. O segundo é que eu não conhecia Charlotte Salomon, e, gente, que artista incrível. O engraçado é que o livro do Foenkinos é baseado no livro autobiográfico da própria autora, "Vida? ou Teatro?”, e faz pensar que tudo que ele fez foi basicamente uma cópia malfeita e resumida da verdadeira obra que devíamos estar lendo, que parece ser uma das melhores já produzidas na Alemanha.
O projeto grafico está muito legal, a Bertrand botou como capa uma pintura de autorretrato de Charlotte, e deixa essa pintura escorregar até a lombada, tornando tanto a capa quanto a lombada coisas lindas de se ver e que realmente me atraíram na hora de escolher o livro. Dentro é o negócio de sempre, papel polén e uma letra boa para ler, só achei que faltaram algumas pinturas da Charlotte ao longo do livro. Minha dica é pressionar a Bertrand a publicar “Vida? ou Teatro?” agora, que parece ser muito melhor para todo mundo.