AUTORA: Elvira Vigna
ANO DE PUBLICAÇÃO: 2016
ANO DA EDIÇÃO: 2016
EDITORA: Companhia das Letras
PÁGINAS: 216
*Exemplar cedido pela editora.
Elvira tem a interessante característica de só escrever sobre aquilo que ocorreu em sua vida, assim como Hemingway ou Burroughs, e é interessante notar como esses escritores são completamente diferentes entre si. Lembro de uma época também em que Vigna era criticada por um povo aí (Vilto Reis) sobre o fato de ser uma escritora de forma, daquele tipo que a trama não importa muito, mas sim o jeito como é contada. A essa altura, ele já deve ter percebido que estava um pouco enganado.
Vamos falar desse livro então, começando pela sinopse: A narradora sem nome (a própria Elvira) encontra-se diariamente com João, um diretor inútil de uma editora que passa as tardes contando as experiências com as putas que ele comeu ao longo do seu casamento com Lola, que descobriu a putaria toda e largou o cara na hora. A personagem tenta preencher todas as lacunas das histórias para entender o porquê de João ter traído sua esposa e o motivo de ele achar que ela está errada nisso tudo.
Algo importante para entender o livro e, principalmente, a estrutura criada por Elvira, é o significado da palavra “palimpsesto”. Vamos ao dicionário: palimpsesto: substantivo masculino, papiro ou pergaminho cujo texto primitivo foi raspado, para dar lugar a outro. A história contada por Elvira apresenta-se basicamente dessa forma: João é um cara que passa de uma puta para outra como se isso significasse nada, apaga a história de uma e põe outra no lugar, e nessa brincadeira de novas experiências até a própria esposa termina raspada do pergaminho de João, tornando-se igual às outras, só mais uma mulher que passa pela vida dele.
João narra tudo de um jeito vago, e aí a escrita de Elvira também assume o estilo palimpsestico (criei agora, copia não comédia) de reescrever algumas histórias através de hipóteses da protagonista, tudo para entender por que os fatos aconteceram daquela forma e que tipo de retardado é uma pessoa como João. Ele, aliás, pensa que a esposa exagerou e que é uma fraca, além de nem um pouco aberta a novas experiências. Elvira sabe e desmascara com facilidade esse papo furado das pessoas que se acham muito, principalmente entre homens.
É difícil falar da história porque é fácil cair em spoiler, mas felizmente podemos falar muito da escrita. Quando eu estava descrevendo o jeito de narrar da Elvira Vigna, a imagem que me vinha a mente era a de um amigo que vem correndo a toda velocidade de um lugar que você não está vendo e salta para te dar um tapa voador na cara. Ela apresenta viradas que vêm completamente, eu disse COMPLETAMENTE, do nada, e mesmo assim são totalmente críveis e plausíveis, fora a constante reflexão e estapeamento na sua face sobre temas como traição, experiências e honestidade.
O projeto gráfico é super charmoso, a capa tem uma textura diferente que é gostosa de pegar, uma cor roxa forte e bonita e o estilo de encaixe das palavras de um jeito um pouco estranho, mas estranhamente agradável. Porém eu esperava que se seguisse o estilo de Nada a Dizer e Por Escrito, mantendo uma unidade no projeto, mas pelo visto isso já foi para o caralho de novo (já é a terceira vez que os livros dela mudam o estilo de capa, esse está mais para o grafismo de Foi o que Deu Para Fazer em Matéria de História de Amor). Contudo, isso é um mero detalhe. O mais importante é que não dá para deixar de ler Elvira Vigna.