AUTOR: Marcelo Moutinho
PUBLICAÇÃO ORIGINAL: 2017
ANO DA EDIÇÃO: 2017
EDITORA: Record
PÁGINAS: 160
*Exemplar cedido pela editora.
“362” tem a cara do cotidiano, a narradora é a cobradora de ônibus que dá conselhos amorosos a um passageiro interessado em uma nova passageira da linha. Sabe o famoso crush do ônibus? Então, quer mais dia a dia que isso?
“Essa cidade está sempre em obra, coisa de doido. Mas tem vezes que é muito carro mesmo. Então consigo um tempo para olhar para fora. Aquele monte de casa sem pintura, colada uma na outra, as passarelas, os depósitos, as entradas de garagem dos motéis, as fábricas. Olho pela janela e fico pensando que todo mundo que chega e sai passa por aqui, pela roleta do ônibus. Parece que tudo só funciona, só se mexe, porque o 362 faz seu trajeto dia após dia. Que, se não fosse o 362, não haveria ninguém na cidade, só construção, cimento. Um silêncio danado. Eu até gosto de silêncio.”
“Gandula” e o sonho do protagonista em ser jogador profissional no time do coração me fez rir com seu desfecho em apenas uma frase. E, novamente, uma situação completamente possível e eu diria que, até certo ponto, muito comum.
“Jantar a dois” traz uma situação normal nos dias atuais: o distanciamento nas relações. E, apesar de ser algo corriqueiro, assistir (ler) aquilo me deu uma pontinha de angústia.
“As praias desertas” é o mais bonito e sensível. Traz um ar nostálgico e romântico bastante forte de quem se lembra de um amor do passado, e, por conta disso, possui um clima melancólico. O que eu achei bem interessante, pois contrastou com os contos anteriores mostrando a versatilidade do autor.
Não há nenhum conto que eu não tenha gostado, mas os que citei foram os meus favoritos. Eu poderia fazer essas pequenas observações sobre os outros, mas eu sinto a necessidade detalhar cada uma, ao mesmo tempo que não posso, pois estaria entregando demais.
Outra coisa que eu ADOREI foi a ambientação das histórias. O autor é carioca, então eu conhecia os bairros e os lugares citados, eu pude visualizar melhor as cenas. Tive a sensação de que aquilo realmente aconteceu ali perto de casa. Não sei se me fiz clara, mas eu sempre acho super legal quando encontro essas coisas nos livros que leio.
Eu não conhecia o autor, mas me interessei por sua proposta de contar histórias comuns sobre pessoas comuns, e me surpreendi positivamente. Para nossa sorte, Marcelo Moutinho tem muitos outros livros já publicados, então é possível que nos encontremos mais vezes por aí.