AUTOR: Caio Fernando Abreu
ANO DE PUBLICAÇÃO: 1982
ANO DA EDIÇÃO: 2015
EDITORA: Nova Fronteira
PÁGINAS: 224
E aí Caio pagava de Nicolas Faísca brasileiro pelo facebook afora. O que para algumas pessoas deveria ser ótimo, pois amam ler Perdidamente Apaixonados e suas variantes de doenças mortais e lugares dos Estados Unidos, mas que quebraram a cara com muita força quando pegaram algo do homem para ler, porque Caio Fernando Abreu até fala sobre romance, mas não do jeito fofo, e sim do jeito trouxa. Mas tem gente que já não curte o senhor faísca, aí quando viu o nome do sujeito falando aquelas coisas melosas pegou o que? Trauma, pois é (ainda tem a variante que dizia que ele escrevia autoajuda vê se pode). Então vem aqui com o papai para descobrir realmente sobre o que escreve Caio Fernando Abreu.
Primeiro a sinopse de Morangos Mofados (como se fosse fácil dar uma sinopse de um livro de contos) (eu não contei para vocês que era de contos não? Pois é, é de contos): o livro é dividido em três partes, que são Os Mofos, onde só tem derrota, dor e sofrimento; a segunda se chama Os Morangos, que é a parte onde os personagens estão de frente com problemas da sociedade da época e tem de encará-los (explico melhor durante a resenha) e a última, que é apenas o conto Morangos Mofados.
A primeira coisa que chamará a sua atenção será após o curtíssimo Diálogo, escrito praticamente numa linguagem teatral, com o próximo conto, escrito num monólogo gigante e ininterrupto de oito páginas, revelando a variação de estilos que o autor consegue ter dentro da obra e, claro, escrevendo bem em todos eles, então ponto positivo para o Caio. Os contos têm temática realista, falando muito sobre o período da ditadura e pós de uma forma meio velada, fora a forte ligação do escritor com a música, chegando a pedir que se ouçam certos cantores enquanto se lê tal história.
Os contos da primeira parte pegam pesado nesse negócio de amor não correspondido, praticamente os melhores têm esse tema: Pela Passagem de Uma Grande Dor, por exemplo, é genial utilizando-se da técnica do iceberg para ser um conto onde parece não acontecer nada, mas onde acontece muita coisa, e para mim o melhor monólogo do livro, Além do Ponto, onde está retratado toda a saga de vocês com o Crush. Algumas histórias ficam bem malucas por irem cada vez mais dentro da cabeça do personagem, como o Eu, Tu, Eles, mas esses são as que exigem calma, paciência e uma releitura para pegarmos melhor o sentido das coisas, acontece.
As histórias da segunda parte não são menos pesadas porque falam de gente se dando bem (acho que nem desse lado as pessoas se dão bem) (agora eu dei uma folheada aqui, nossa senhora, ninguém se dá bem mesmo), então nós temos contos como o do Sargento Garcia, o oficial que quer pegar o boy que vai estudar filosofia na faculdade; Caixinha de Música, onde um cara perturbado vai contar para a sua esposa o que anda deixando-o para baixo; e Aqueles Dois, provavelmente a única história de amor que não tem romance e você não deixa de se apaixonar pelo relacionamento dos dois mesmo assim (aliás, a alta quantidade de relacionamentos homossexuais nesse livro se dá pelo simples fato do Caio ter sido gay). Alguns contos dentro do livro têm uma vibe meio surreal, como Diálogo e O Dia que Júpiter Encontrou Saturno, fora alguns que se aproveitam de um tom meio onírico por estar dentro da cabeça dos personagens.
Tem também o ultimo conto, que dá nome ao livro, trata-se de um sobrevivente do mundo hippie que vai ao médico porque está doente da alma, mas nenhum check-up aponta isso, e ele sente essa doença se manifestar pelo fato de sentir o tempo todo o gosto de morangos mofados. Extremamente poético, como vários outros do livro, que fala sobre a mudança do mundo e a necessidade de uma nova esperança em um lugar cheio de problemas como o nosso.
O projeto gráfico da Nova Fronteira está ok, a capa está mais mole do que o de costume mas eu acho ela bem bonitinha, fora que manter esse design meio coleção leste da Editora 34 nos outros livros também (quero todos gente, vocês me dão?) torna bem mais palatável. Espero ter tirado essa nuvem de mentiras que rondava o homem e que vocês corram para ler Caio Fernando Abreu.