AUTOR: Raphael Montes
ANO DE PUBLICAÇÃO: 2016
ANO DA EDIÇÃO: 2016
EDITORA: Companhia das Letras
PÁGINAS: 360
*Exemplar cedido pela editora.
Em meio às dificuldades de pagar o aluguel e conseguir um bom emprego em um país em crise, os quatro amigos têm uma ideia para finalmente ganhar dinheiro: realizar jantares secretos para clientes ávidos por uma aventura gastronômica exótica.
Mas o que começa como brincadeira de repente assume proporções inimagináveis. Eles mergulham num sufocante caminho de desconfiança, paranoia e ambição, assumindo uma índole perversa que jamais imaginaram possuir.”
“Um homem entra num restaurante e pede uma sopa de gaivota,
ele prova a sopa, pega uma faca e se mata.”
Estão vendo aquela sinopse? Eu cortei algumas coisinhas aqui e ali, mas acho que é o suficiente para começarmos. Raphael Montes já apareceu no blog mil vezes, tanto na resenha de Dias Perfeitos, como em tags e listas, isso porque, até o momento, eu só havia lido um livro do autor. Agora que adicionei O Vilarejo, e, obviamente, Jantar Secreto à conta, posso afirmar: sim, eu estava certa, o cara é realmente bom. Três leituras, três acertos, e que venha Suicidas relançado pela Companhia!!
No primeiro dia, eu li 40 páginas, no segundo foram 220, e no terceiro dia li as cem finais, isso porque meu ritmo de leitura decaiu de uns tempos para cá, mas não tinha como não querer acompanhar aquela situação, meus queridos, não tinha como. Montes não estava brincando quando escreveu “Devorem!” no nosso exemplar.
Eu ainda penso que vocês já sabem, mas ok: a carne servida nos jantares é carne humana, porque, aparentemente, canibalismo é algo atrativo entre a elite carioca. É chocante, bizarro, algumas cenas são inacreditáveis e, obviamente, cruéis. Aproveitando a onda do consumo de carne (algo familiar entre nós), seus personagens levantaram questões importantes como: por que comemos carne de boi e de porco, sabendo como chegam até nossas mesas, mas nos parece tão absurdo fazermos o mesmo quando se trata da nossa raça? Será que nossa vida vale mais do que a vida de outros animais? Sim, mexeu-se com a questão da hipocrisia. Toda vez que eu lia algo do tipo, eu me sentia mal, mas é aquele ditado, se não for para levar tapa na cara lendo alguma coisa, a gente nem lê. Para os personagens, isso servia como justificativa, além, claro, da situação financeira deles estar um fiasco. Penso que é o suficiente? Eu faria o mesmo? Não, mas 1) é ficção e 2) existe muita gente doida no mundo, não duvidem. Ah, quase ia me esquecendo, vocês conhecem o enigma da carne de gaivota? Junto ao exemplar, recebemos um cartão de visitas, digamos assim, e o nome do restaurante fictício chamou minha atenção, com uma breve pesquisa no Google acabei descobrindo a existência do tal enigma, e, ligando uma coisa à outra, antes mesmo de ler o livro, suspeitei (capitão óbvio) que tinha relação. Sendo assim, adorei a escolha do nome. O enigma aliás é aquele que eu citei lá em cima, a resolução está aqui, mas o livro explica logo nas primeiras páginas também.
Voltamos à zona segura para aqueles que não queriam saber nada além do que se encontra lá em cima.
Apesar do clima pesado, consegui dar boas risadas enquanto lia. Raphael Montes tem tiradas ótimas. Dante, o narrador, trabalha como livreiro e não suporta quando algum comprador aparece na livraria pedindo “o livro com o anão na capa” ou “o que tem sangue nas páginas” sem nem saber o nome do autor, e vocês sabem o que é isso? MEUS AMORES!!!!! Ele estava fazendo uma referência às obras dele mesmo, Dias Perfeitos e O Vilarejo, se eu amei? Eu amei. Adoro senso de humor.
As referências não param por aí, não. Ele inseriu um easter egg no meio do negócio. Para quem não sabe, easter egg é quando o criador de uma obra coloca algo fora daquele universo, de forma não tão explícita, como se fosse uma brincadeirinha interna, fazendo menção à outra obra, deu para entender? Em um determinado ponto da história, o qual não me aprofundarei, Dante se depara com Téo e Clarice, de Dias Perfeitos. Na hora que eu bati o olho, eu suspeitei e depois veio a confirmação. EU AMEI!!!
Há momentos do texto que eu me senti em casa, digo isso porque estamos acostumados a ler obras gringas que falam sobre locais os quais nunca tive acesso. Por exemplo, quando o autor diz o nome de uma rua ou de um restaurante, ele não me diz nada, não conheço. Mas, como Jantar Secreto tem o Rio de Janeiro como cenário, ainda que seja a Zona Sul, fica tudo muito mais fácil. Além disso, menções ao 7x1, réveillon em Copacabana e às greves da UERJ (pois é) fizeram com que eu me sentisse no quintal de casa. É um livro muito nosso, digamos assim ♥
E o que dizer do capítulo inteiramente construído em mensagens do WhatsApp com direito a memes e tudo? Achei diferente e adorei!
Outra coisa que NÃO POSSO deixar passar e que me fez sorrir de alegria todas as vezes que vi foi a semelhança, em alguns pontos, com a escrita do Chuck Palahniuk, autor de Clube da Luta. Posso estar enganada, mas toda vez que Dante, repetia a seguinte frase “Certa vez, num banheiro público, havia um poema:” inserindo um poema (poema?) para resumir uma ideia causando uma ruptura com o restante do texto, eu lembrava do Chuck e pensava que poderia ser alguma inspiração, homenagem ou algo do tipo. Quando um dos personagens citou uma frase de Clube da Luta, veio a confirmação: SÓ PODE SER ISSO. Meu coração não aguenta... Sem contar a interação direta com o leitor, já que Dante escrevia um tipo de confissão, outra marca que vejo nas obras do Palahniuk. Não sei se estou vendo coisas, mas foi a impressão que tive e fiquei felizinha. Gosto MUITO dessas técnicas e adoraria ver por aí mais vezes, se foi ou não foi uma inspiração de lá, não importa, ficou ótimo.
Como dito na sinopse, a ambição guia os personagens e as coisas ficam MUITO sérias. Em certo momento, o livro vai ganhando um caráter mais policial. O foco é tentar se livrar das tretas em que se enfiaram, gostei disso, foi uma crescente sem fim, tudo montado direitinho, cada informação na hora certa.
As cenas mais próximas do final são muito sangrentas. Achei que já tinha visto demais no decorrer do livro, mas não acreditei na loucura que foram aquelas cenas.
Não tenho nada negativo a dizer sobre o livro, mas fiquei com medo de que em algum momento a coisa desandasse: não ocorreu. E o desfecho? Fiquei surpresa, o autor jogou uma bomba no nosso colo no epílogo e foi embora como se nada tivesse ocorrido. Tive que ler duas vezes para ver se tinha entendido tudo corretamente. Achei satisfatório, mas naquela hora fiquei com uma pulga atrás da orelha: queria mais explicações, talvez por estar indignada demais. Aí eu me dei conta de que isso não foi um erro, não foi desleixo ou preguiça do autor. Acredito que a intenção dele tenha sido deixar o leitor chocado da mesma forma que o personagem envolvido no final ficou, e conseguiu.
Mais um livro que adorei do autor. Como já disse por aí, fico muito orgulhosa quando vejo o reconhecimento que ele está ganhando. Dias Perfeitos, por exemplo, foi traduzido para mais de 20 países, teve os direitos vendidos para o cinema, e o cara nem chegou aos trinta anos. O próximo da minha lista de leituras é Suicidas, adaptado para o teatro como Roleta Russa, que será relançado pela Companhia das Letras. Ah, a resenha de O Vilarejo sairá por esses dias ;)
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Espero que tenham gostado do post GIGANTE de hoje, desejo muita luz a todos que leram até aqui e boa sorte aos que decidiram participar. Os outros posts serão menores, juro :x haha. Beijos!!