
Autor: Chuck Palahniuk
Editora: Leya
Ano: 2012
Páginas: 360
Segundo livro de Chuck Palahniuk, autor de Clube da Luta. Sobrevivente busca ser uma história cheia de ironia e sarcasmo, que usa como cenário um país que tropeça em seus próprios valores, e onde qualquer um pode virar modelo de qualquer coisa.
Uma coisa curiosa que encontramos no primeiro capítulo é que ele não é o primeiro... Isso mesmo. Começamos no capítulo 47, na página 353!! Por que? Porque o Chuck é doido, e a gente ama!! Com isso, ele criou um clima de contagem regressiva bem legal. Afinal de contas, o intuito do protagonista é se matar, certo? Sentimos o fim da vida dele se aproximando a cada folha que passamos.
Acho que isso já fica claro na sinopse, mas vale dizer: Tender Branson tem probleminhas. É ele que narra toda sua história de vida para a caixa-preta do avião e, consequentemente, para nós leitores. Todos os cortes e repetições que o autor faz vez ou outra são muito pertinentes e retratam muito bem a personalidade de nosso protagonista. Digo isso porque alguns podem pensar que esse tipo de coisa incomoda, mas não é o caso. Palahniuk sabe o que está fazendo, gente!!
"Segundo o agente, essas pessoas que buscam um líder desejam vibração. Desejam grandiosidade. Desejam dinamismo. Ninguém deseja um deus magricelo. Elas desejam um abismo de quinze centímetros entre a largura do peito e a da cintura. Peitorais grandes. Pernas longas. Queixo furado. Panturrilhas bojudas. Elas desejam alguém que vá além do humano. Elas desejam algo grandioso. Ninguém deseja apenas o anatomicamente correto. As pessoas querem o aprimoramento anatômico. O cirurgicamente aumentado. O novo e melhorado. Implantado com silicone. Injetado com colágeno."
O livro vem recheado de críticas, mais ainda do que em Clube da Luta. Logo nas primeiras páginas você já toma uns tapas na cara quando nosso estilo de vida, comodismo e narcisismo são satirizados. No decorrer da narrativa, encontramos um exemplo de como tudo é pré-fabricado e pode ser moldado de acordo com uma demanda. Especialmente celebridades. Branson, de uma hora para outra, vira um ícone religioso, mas nem tudo é como parece ser e para que ele seja aceito e cultuado pela sociedade, é necessário que ele se submeta a um longo e contínuo processo que inclui uma série procedimentos estéticos, exercícios físicos exaustivos, milhares de pílulas suspeitas com efeitos colaterais e por aí vai. Ainda nesse embalo, vê-se todas as estratégias dos agentes em vender a marca, que nesse caso é Tender, através da fé das pessoas, chegando a níveis absurdos. Será que isso também acontece na vida real? Hm...
Além disso, entra a questão de que Tender nasceu na comunidade da igreja da Crendice programado para seguir o que quer que os presbíteros pregassem, por mais absurdo que parecesse. Após muita manipulação e repressão durante sua infância e adolescência, ele sai daquele local, mas continua carregando todos os valores que lá aprendeu. E Tender, em poucas páginas, nos mostra todos os efeitos negativos que aquilo trouxe. Digamos que ele tenha sido alienado por conta de sua religião. Volto a questão do parágrafo anterior: será que isso também acontece na vida real? Mais um ponto para o Chuck!!
Outra coisa que gosto muito e que já tinha visto em Clube da Luta (no filme também), é que o autor faz com que o narrador interrompa sua narração por um instante para falar diretamente com o leitor. Um artifício que prende mais ainda a minha atenção na história.
Sobrevivente é um livro que te diverte, ao mesmo tempo que te faz refletir várias vezes e que você não vai querer largar. É cômico em certos momentos, agressivo em outros, e às vezes os dois ao mesmo tempo, te dando alguns bons socos no estômago como só o Chuck sabe fazer. RECOMENDADÍSSIMO!! Já quero mais um do autor. FAVOR EDITORAS, RELANCEM AS COISAS DO CHUCK NESTE PAÍS PELO AMOR DE TYLER DURDEN!!! Obrigada!