ESCOLHIDOS DA CAROL:
Já começamos essa leitura sabendo o que, para muitos, seria considero spoiler: Santiago Nassar morreu. Mas isso foi há muitos anos, agora é hora de um de seus amigos contar o que aconteceu naquele fatídico dia, em um incrível quebra-cabeças super dinâmico. Como poderia uma morte TÃO anunciada, não ter sido evitada por ninguém? Vocês só saberão lendo o livro, que é curtinho e dá para ser devorado em pouquíssimas horas. Primeiro contato que tive com o autor e comecei com o pé direito. Para saber mais sobre o livro, clique aqui.
Palahniuk, suas críticas e seu humor ácido não poderiam deixar de aparecer nessa lista. Sobrevivente foi o segundo livro que li do autor, e nele me deparei com Tender Branson, que sequestra um avião e decide se matar, mas antes ele conta sua história sobre como virou uma celebridade religiosa. Nessa obra, Chuck dará muitos tapas na cara, como gosta de fazer, mexendo em assuntos como comodismo, narcisismo, alienação religiosa e a forma que o mercado pode moldar qualquer pessoa de acordo com uma demanda transformando-a em uma marca lucrativa. Não é sensacional? É sim, meus amores. A resenha completa você confere aqui.
Quem aí gosta de distopia? E quem aí anda cansado das distopias atuais onde a história vive se repetindo? Eu mesma, por isso fui me aventurar em 1984 e AMEI! Acompanhamos a vida da galera em Oceânia, local comandado pelo Partido, que tem como líder o Grande Irmão, onde simplesmente o fato de pensar fora do que os poderosos consideram correto já é considerado crime, opressão TOTAL. O mais impressionante do livro é que, embora as ideias pareçam absurdas e exageradas, não precisamos ir muito longe para perceber que muitas coisas já aconteceram e continuam acontecendo: tortura, manipulação de notícias, ministérios que não cumprem suas funções e por aí vai. O livro foi escrito em 1949 e continua super atual, além de contar com um final maravilhoso. Ah, é um clássico da literatura. Resenha aqui.
Em segundo lugar temos Uma Duas, romance de estreia da gaúcha Eliane Brum, E QUE ESTREIA!! A história fala sobre a relação super conturbada entre mãe e filha, é basicamente isso aí, mas sério, não estamos falando de uma adolescente rebelde, ambas são bem crescidinhas e o clima entre elas é bem tenso, assim como o livro, que aborda alguns assuntos pesados. Aliás, dizer que aborda é eufemismo, a autora JOGA certas informações na nossa cara e a gente nem tem tempo para assimilar e respirar. O livro é narrado de três formas diferentes e eu amei a escrita da Eliane, que era ainda algo novo para mim. Um soco no estômago que eu super recomendo, aos que têm estômago forte, claro. A resenha está aqui para quem quiser conferir.
Levei muito tempo para decidir, mas não teve jeito, Sangue no Olho foi a melhor leitura de 2016. Eu não esperava muita coisa desse livro e foi algo completamente diferente de tudo que eu já havia lido antes. A história é sobre uma escritora, chamada Lina Meruane (mesmo nome da autora) que possui uma doença que cobre suas retinas de sangue, e, como consequência disso, ela vai perdendo sua visão e precisa aprender a viver dessa forma. A escrita da chilena foi uma novidade para mim, me senti arrebatada já nas primeiras páginas. Sem travessões demarcando diálogos e com descrições inacreditavelmente bem feitas por quem mal enxerga, as páginas voaram nas minhas mãos. Leitura mais que recomendada, confiram a resenha aqui e POR FAVOR, LEIAM ESSA OBRA MARAVILHOSA ANTES QUE O ESTOQUE DA COSAC NAIFY ACABE!!!
Menções honrosas:
Meus amigos, não foi NADA fácil organizar essa lista, demorei dias para decidir e, por conta disso, alguns livros muito bons foram deixados de fora, mas sinto que preciso colocá-los aqui de alguma forma. O primeiro deles é A Menina Submersa, de Caitlin R. Kiernan, que por pouco não entrou no top 5, mas com certeza foi um livro que me surpreendeu pela capacidade da autora em contar uma história narrada por uma mente esquizofrênica de forma não linear e fazer dar certo. O segundo é A Revolução dos Bichos, de George Orwell, livro curto, construído em forma de fábula, que conta a história de animais de uma fazenda que se revoltam contra seus donos e passam a viver em uma hierarquia entre eles mesmo, a prova de que poder demais nunca dá certo, fazendo ainda um paralelo à Revolução Russa. Outro livro que me agradou muito foi Pequenas Grandes Mentiras, de Liane Moriarty, trazendo três protagonistas incríveis, um clima de tensão crescente acerca dos mistérios envolvendo determinada morte e desfecho surpreendente. Fecho essa enorme lista, que era para ser breve, com dois livros nacionais: Dias Perfeitos, de Raphael Montes, trazendo uma linda história de amor (ata) que acontece somente na cabeça de Téo, o protagonista meio psicopata e MUITO BEM CONSTRUÍDO, que SEQUESTRA sua amada Clarice, quer romance mais bonito??? O outro nacional que merece ser mencionado é Eu Vejo Kate, da autora Cláudia Lemes (que mulher!!), narrado por três pontos de vista, sendo um deles o de um serial killer morto, aposto que por essa vocês não esperavam... Além disso, autora desmistifica a figura fantasiosa de assassino em série que temos e torna tudo mais próximo da realidade, recheado de cenas fortes e descrições pesadas, preparem-se.
ESCOLHIDOS DO VICTOR:
Sim, um livro do Cortázar ficou na frente da coletânea preferida de Borges, feita pelo próprio autor. Talvez isso indique de quem eu gosto mais? Não sei, sou igualmente fã e agradecido pela obra dos dois. Mas o livro de Cortázar fica na frente basicamente pelo melhor conto que eu já li na minha vida (que, na verdade, tem tamanho de novela) O Perseguidor. Eu chorei lendo esse conto, não porque ele é triste, e sim porque ele é tão bem escrito e tão profundo que eu me senti na frente de uma verdadeira obra-prima. Extremamente recomendado. Resenha completa aqui.
O Náufrago é quase uma versão estendida de O Perseguidor, só que passando por outros lugares, falando de outro tipo de música, contendo um narrador com muito mais vontade de ser crítico e honesto e menos vontade de ser hipócrita e se dar bem na situação, embora ainda tenha um pouco disso também. Bernhard é incansável na sua escrita e não para de falar até não sobrar pedra sobre pedra de qualquer coisa a que ele se dirija. Essa raiva toda me estimulou a botá-lo na quarta posição do top 5 com louvor.
O primeiro livro que eu li ano passado foi logo o lançamento da Companhia das Letras de um Nobel de literatura, na época eu ainda era um neófito de literatura pesada e eu diria que esse livro praticamente moldou o meu gosto literário, extremamente esquisito para alguns, mesmo os que leem o tipo de literatura que eu leio. As Rãs é um livro magistral, olhando um dos milhões de aspectos da revolução chinesa e escrito com simplicidade, mas sempre tendo o que dizer, isso fez com que ele estivesse no terceiro lugar dessa lista. Resenha completa aqui.
Se eu fosse uma pessoa normal, teriam dois livros do Raduan Nassar na lista e dois do Roberto Bolaño, mas aí eu ia indicar menos autores e eu quero que vocês leiam tudo de todos os escritores que eu estou recomendando aqui. Raduan Nassar ainda por cima tem pouca coisa, e agora está tudo compilado num livro só lançado pela Companhia das Letras. Lavoura Arcaica é um livro poético sobre o horror animalesco que é o ser humano e sua capacidade fajuta de fingir ser racional e superior, mostrando como uma família do campo é desestruturada por causa dos impulsos que o animal dentro de nós sempre tem.
Todo mundo está careca de saber que 2666 não é só o meu livro preferido do ano de 2016 como também o livro preferido da vida, e eu já escrevi uma resenha enorme sobre a genialidade de Roberto Bolaño em fazer um livro que realmente conseguiu englobar a vida e marcar um ponto de referência dentro da historia mundial, assim como escritores como Proust e Dickens. Tem como não amar e não ler? Resenha completa aqui.
Existem muitos livros deixados de fora, começando pelos livros de contos fantásticos maravilhosos, como a Ficção Completa de Bruno Schulz, a Obra Completa de Murilo Rubião e a Antologia Pessoal de Jorge Luis Borges, que também reúne alguns ensaios e poemas do escritor argentino. Na parte fantástica, também temos Ar de Dylan, de Vila-Matas, e Ensaio Sobre a Cegueira, de Saramago, mais alguns livros de contos como Morangos Mofados, de Caio Fernando Abreu, e Contos Negreiros, de Marcelino Freire. A principal ausência na lista e possível sexto lugar vai para a peça Esperando Godot, do genial Samuel Beckett. Outros grandes romances lidos esse ano foram Pastoral Americana, de Philip Roth, Os Vestígios do Dia, de Kazuo Ishiguro e A Arte de Produzir Efeito sem Causa, de Lourenço Mutarelli. Por fim, só para não deixar a lista sem um livrinho de poesia, indico Ensaios Fotográficos, de Manoel Barros.
AGORA SIM!!! 2016 está devidamente encerrado, é fim das retrospectivas do ano passado. Esperamos que tenham gostado, pois não foi nada fácil elaborar essas listas. E para vocês, quais foram as melhores leituras de 2016? Algum livro em comum? Falamos sobre alguma obra que seja do seu interesse? Deixe aí nos comentários que em breve estaremos respondendo, beijos!!! AHHHH, e por último, mas não menos importante: fiquem atentos, pois o próximo post (01.02) será o anúncio do primeiro Top Comentarista aqui do blog. O prato principal é surpresa. Mas posso dizer que o molho está mais delicioso do que nunca ;)