Autor: Milan Kundera
Editora: Companhia de Bolso
Ano: 2010
Páginas: 248
Kunderinha meus amigos. Esse homem que todo mundo acha que é um one-hit man, mas isso é porque ninguém procura ler os outros trabalhos dele. Afinal de contas, você já tinha ouvido alguém comentar sobre esse livro antes? Ou de O Livro do Riso e do Esquecimento? Ou pelo menos de A Vida Está em Outro Lugar? Não, só de A Insustentável Leveza do Ser né? Aí fica difícil... E o homem só escreve livro foda com titulo mais foda ainda, olha essa galeria de nomes maravilhosa senhor.
Chega de ficar enrolando e vamos para sinopse: Ruzena é uma enfermeira num balneário para mulheres que procuram recuperar sua fertilidade, um dia ela descobre que está grávida de um músico importante de seu país chamado Klima, e, enquanto ele quer o aborto a qualquer custo, ela acha que a criança é o seu passaporte para fora daquela vida monótona e pobre. Enquanto vemos esse vai e vem entre os dois, acompanhamos também a vida dos outros que povoam o lugar, como o americano Bertlef, católico fervoroso e rico, que pinta e está fascinado pelo Dr. Skreta, que consegue fazer as meninas do Balneário terem sua fertilidade de volta, quase como se fosse um deus da vida. Também acompanhamos a esposa extremamente ciumenta de Klima, Kamila, o amigo do Dr Skreta que está prestes a sair do país para sempre, Jakub, e a sua protegida que vive no balneário, Olga.
Eu normalmente não citaria tantos personagens, e o fato de estarem todos aí é porque todos têm importância na trama e são interessantes. Bertlef, por exemplo, traz uma discussão religiosa consigo muito boa, e ele é um daqueles personagens que você acha que todo cristão devia ser, porque ele consegue misturar a religiosidade com a sua vontade de viver a vida de um jeito esplêndido.
O sentido do livro se revela no seu título: o principal acerto do Milan foi como ele construiu essas relações, esses encontros e desencontros que faz cada um dos personagens mudarem sempre, contradizendo até ações e pensamentos passados, e se despedindo de ideias e situações anteriores para se encontrar em novos, como uma dança em que você tem que se despedir do seu eu antigo para achar seu novo eu. O único personagem que não sofre essas mudanças é justamente Bertlef, porque ele é “superior”, digamos assim, quem leu o livro vai entender do que eu to falando (ou não).
O livro é divido nos cinco dias úteis da semana e dentro de cada dia há vários capítulos curtos, tornando a leitura algo ágil, de fácil parada e retomada, principalmente para o pessoal que tem toc que nem eu e só para de ler um livro quando acaba o capítulo. Kundera também não perde muito tempo com descrições, procurando muito mais dar ênfase no desenvolvimento psicológico dos personagens, coisa que funciona muito bem. Os diálogos são sensacionais e dá para catar varias pérolas para usar na vida e várias referências a outros autores e livros, algumas explícitas e outras não, como Nietzsche e Dostoievski. Eu to meio cansado de falar do projeto gráfico dessa coleção já, vocês tão carecas de saber. Só vou falar da capa, que é simples e lindíssima. E quando você lê o livro e sabe o que são esses comprimidos, vai ficar procurando algo aí.