Autor: Paul Auster
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2004
Páginas: 224
Ele é um daqueles caras que está entre os dois mundos: não faz best-sellers a cada livro que escreve, mas tem seu público relativamente grande (entre eles uma das “caras” do blog, Lourenço Mutarelli) e a crítica também gosta do que ele escreve, não chega a revolucionar a arte de colocar uma palavra na frente da outra, porém sempre é gratificante estar em contato com o que ele tem para contar. Ah, e também é diretor de cinema, esse sabe viver a vida.
O que ele tem para contar em Noite do Oráculo então? Sidney Orr está se recuperando de sua experiência de quase morte, depois de ter sido atropelado por um carro e ficado meses internado, e agora tenta voltar a escrever e arrumar uma grana para conseguir pagar o plano médico. Em uma de suas caminhadas matinais, ele encontra uma pequena papelaria comandada por um chinês e lá fica apaixonado por um caderno português de capa dura e sente que nele vai conseguir retomar sua carreira. Compra o da cor azul e sente a mágica fluir assim que começa a escrever nele, só que coisas estranhas também chegam junto com esse caderno.
Metalinguagem é a palavra do livro, e por ser um tema que eu não tinha muita experiência em livros, fui surpreendido demais com as ideias do Paul. Sidney começa a escrever uma história que se parece com a sua, e o Auster te mantém colado na cadeira querendo saber o desenrolar das duas, fazendo jogos com a sua mente e cortando de um lado para o outro rapidamente, fazendo esse livro ficar muito ágil. Outra característica marcante do livro foram as notas de rodapé que o autor colocou, uma delas, por exemplo, ocupa várias paginas e conta um detalhe extra da vida dos personagens, seja o nosso heroi escritor, sua esposa ou o amigo do casal, o famoso escritor John Trause. Dica: as notas são acessórios da narrativa, se você quiser pode não lê-las e acabar a obra mais rápido, mas vai perder um pouco da profundidade dos personagens.
Tempo também é outra palavra importante. A relação que o escritor expõe no livro das pessoas com o tempo é incrível, como no primeiro diálogo de Trause contando como o cunhado dele reencontrou fotos perdidas e viu parentes que tinham morrido há anos, ou a dor de saber o futuro, que é mostrada pelo homem no livro dentro do conto de Sidney e que tem o mesmo título que o do tomo discutido, Noite do Oráculo (um livro dentro de um livro que está dentro de mais um livro, how cool is that?), que é sobre um cara que é atingido por visões do futuro, e por último na crítica ao A Máquina do Tempo do H. G. Wells e sua reestruturação para o roteiro de cinema.
Os livros do Auster têm um dos melhores acabamentos que eu já vi. A sobrecapa não tem nada além do nome do escritor e o da obra, não tem nem o nome da editora e o que a torna mais especial é que ela emula o caderno português que Sidney está tão fascinado (só não é capa dura). Por dentro o livro também está ótimo, no padrão da Companhia que vocês já tanto ouvem falar por esse blog.