AUTOR: Marcelino Freire
ANO DE PUBLICAÇÃO: 2005
ANO DA EDIÇÃO: 2014
EDITORA: Record
PÁGINAS: 110
Mas sobre o que Marcelino escreve afinal? Uma coisinha que um colega meu denominou Literatura de Resistência (não sei se o termo realmente circula por aí assim, mas pelo menos ele faz sentido), que é basicamente a literatura que fala sobre as minorias do mundo, como os homossexuais (durante a conversa descobri que Marcelino é homossexual), as prostitutas, os moradores de favela e, claro, os negros.
E como não poderia deixar de ser, em Contos Negreiros o principal foco é a população negra em sua maioria, mostrando situações como o preconceito e a condição social. Além disso, há histórias sobre mulheres e gays para compondo o corpo do livro (sinopse super mequetrefe porque é um livro de contos né gente).
Para já dar aquela carteirada básica, a obra ganhou o Jabuti de melhor livro de crônicas/contos do ano de 2006 (caso vocês não conheçam, o Jabuti é o maior prêmio literário do Brasil em relação a obra única [existem premiações para livros e para conjuntos de obras, como o Nobel e o Camões] e com maior eu estou falando o que dá mais $$$). Marcelino traz nesses contos a sua habilidade fazendo com que um texto curtíssimo te dê mais porrada que muito romance aí.
A primeira coisa que chama a atenção na prosa de Freire é a sua poética fortíssima, principalmente porque seus textos geralmente parecem monólogos de personagens (talvez por isso ele os chame de Cantos) e eles dialogam fortemente com a língua do povo e com certos trejeitos característicos, sem perder a beleza da estrutura do texto e de sua montagem muito original, coisa que faz com que os velhos conservadores da academia não possam ignorar ESSE GÊNIO, mesmo falando o que ele fala.
Agora das tramas em si, vou só destacar algumas para vocês ficarem com o gostinho na boca: em Solar dos Príncipes, a historia é sobre alguns homens tentando entrar em um condomínio para entrevistar os moradores e saber como é o domingo deles, uma das narrativas mais longas do livro e fala sobre a diferença social do Brasil e do preconceito velado; em Coração, vemos uma perseguição de um gay ao seu crush de metrô, um conto divertidíssimo que diferencia por sair do tema principal, mas pontua ainda mais a polifonia característica na obra de Marcelino; e por fim o conto Nossa Rainha é sobre a filha de uma trabalhadora da favela que cisma em ser a Xuxa, o que, para mim representa basicamente por que a meritocracia é um conceito falho.
O projeto gráfico da Editora Record está lindíssimo, capa dura, papel polén ótimo e grosso, com uma capa forte que se complementa atrás de um jeito bem original, conseguindo, ainda assim, manter um preço baixo, provavelmente devido ao fato de ser quase do tamanho de um livro de bolso. Fica a super recomendação de um dos maiores escritores da atualidades, não sejam maricas e leiam contos, e, se vierem falar que não vão ler porque nada ver apoiar esses caras, vão receber respostas caprichadas de amor.