
Autor: Daniel Galera
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2008
Páginas: 176
Cordilheira foi o penúltimo trabalho do senhor Galera, provavelmente o nome mais conhecido da literatura pesada atualmente. Impressionou a todos (embora nem todo mundo tenha gostado) com Barba Ensopada de Sangue, livro que, quando eu tiver paciência, farei a resenha também, e conseguiu terceiro lugar no prêmio Jabuti tanto pelo seu livro mais conhecido quanto pelo livro em questão.
E sobre o que é o livro em questão? Vamos lá: Anita acabou de escrever um livro incrível que está sendo elogiado por todas as partes do mundo, menos por ela. A garota não quer escrever mais e também está tendo que lidar com a morte recente do pai, mas ela só pensa em uma coisa: engravidar. E nessa loucura de achar alguém que a engravide (seu namorado não quer ter filhos), Anita aceita um convite para viajar a Buenos Aires, lá conhece José Holden e seus amigos nada normais.
O começo tinha todos os elementos de uma história romântica clichê: a garota meio depressiva, desamparada, frustrada tanto profissionalmente quanto socialmente, porque suas amigas e seu namorado não entendem seu desejo de engravidar (na verdade eu lutei muito para tentar entender também, porque eu não sei quem procura fazer filho com tanta vontade assim), aí ela viaja para Buenos Aires e encontra um homem maravilhoso que vai mudar a vida dela. Eu estava me contorcendo na cadeira enquanto lia. Porém tinha um elemento que me mantinha segurando o tomo: a personalidade de Anita. Ela era chata? Era, mas ela pelo menos narrava de uma forma que eu não estava esperando. Não tentava ser meiga ou amável, era até muito dura às vezes, fiquei um pouco chocado me perguntando se as mulheres realmente pensavam daquele jeito, daí fui pesquisar e acabou se confirmando, então ponto para o Daniel.
Quando José Holden entra, a narrativa passa a focar no seu tema principal: o comprometimento com a literatura. Daniel discute através de seus personagens argentinos o quanto você pode ficar bitolado com aquilo que você lê e de como as pessoas podem levar a literatura a sério demais. Também rolam ótimas discussões sobre escritores desconhecidos e ótimas passagens dentro de Buenos Aires e Patagônia. Sobre a escrita do seu Galera, ele tem ótimos momentos nos seus diálogos e estrutura seu romance de uma forma bem interessante: Prólogo, nove capítulos e Epílogo, dando a ideia do período de gestação de um bebê.
Cordilheira é o primeiro da coleção Amores Expressos, um projeto da Companhia que manda escritores brasileiros para capitais de outros países pedindo que façam histórias de amor nessas cidades. Bem arriscado, mas se todos mantiverem o nível como o do Galera, talvez tenha muito mais coisa boa por aí.