
Autor: Bruno Schulz
Editora: Cosac Naify
Ano: 2015
Páginas: 544
Perderam-se alguns contos e o manuscrito de seu primeiro romance, Messias. O que sobrou foi compilado nessa edição da Cosac Naify na coleção A Prosa do Mundo, e mais uma vez surge um desafio, que é falar de um livro de contos, embora esse seja o mais fácil deles provavelmente, porque Schulz ambientou praticamente eles no mesmo lugar e com os mesmos personagens, que são Jozef e sua família, sendo o herói um alter ego do escritor.
O livrão da Cosac tem dois livros do Schulz dentro dele: Lojas de Canela e Sanatório Sob o Signo da Clepsidra, e a principal diferença entre eles é a diferença de idade de Jozef, que no primeiro é criança e no segundo é adolescente. O primeiro conto de Schulz, Agosto, já mostra qual é a do livro: Schulz traduz o cotidiano em palavras de uma forma que te deixa chocado com o nível de beleza das sentenças. A descrição e a poesia em forma de prosa são o ponto forte do cara, embora invariavelmente algo da sonoridade das palavras na tradução se perca comparado ao original, porém permanece totalmente entendível.
Os contos alternam entre vários aspectos: alguns são usados para apresentar ideias, algo parecido com pequenos ensaios, como a série dos Tratados dos Manequins e a trilogia da Época Genial; outros são usados para apresentar personalidades interessantes e complexas, como O Sr. Karol e Dodo; contos onde o foco é apenas a beleza da escrita e do cotidiano, como Nemrod e o já citado Agosto. A grande maioria deles tem um nível de realismo mágico fortíssimo, a mistura entre o sonho e o real é uma das grandes características do Schulz para esconder o sentido real de cada história e fazer você quebrar a cabeça para descobrir.
Entre as melhores coisas em Ficção Completa também está o pai, personagem que é o assunto da maioria dos contos, um velho caixeiro viajante vendedor de tecidos que está toda hora se transformando e morrendo, sendo o principal pilar representativo dessa família (talvez até mesmo desse pequeno mundo que é Drohobycz). Os dois principais contos que dão nomes aos títulos dos livros e um dos contos inéditos, O Cometa, são realizações incríveis que só por eles já valeriam a compra dessa obra. O problema é que ela é extremamente densa. As histórias todas juntos são quase impossíveis de ler de uma vez só, pois apesar de muito bem feitas e poéticas, adjetivo demais cansa, fora a profundidade de boa parte dos contos, o que acaba me forçando a dizer: esse é um livro para os fortes, para pessoas que não tem medo de não entender nada em uma leitura.
O design é um dos mais lindos que eu já vi. A capa com nada além da imagem é uma ótima ideia e eu sinto que todos os livros deveriam ser assim. Esse desenho, aliás, é do próprio Schulz, e por dentro existem outros dele, fora os ótimos apêndices que complementam muito a leitura, pelo menos mais que esse texto raso aqui, mas é o que tem para hoje.