
AUTORA: Michelle Perrot
PUBLICAÇÃO ORIGINAL: 1988
ANO DA EDIÇÃO: 2017
EDITORA: Paz & Terra
PÁGINAS: 362
*Exemplar cedido pela editora.
Apesar disso, eu já adianto que vale muito a pena conferir esse aqui por vários motivos. Primeiro que ele já me atraiu logo de cara pelo assunto: um livro que se propõe a desviar da chamada “linha principal” da História e dar uma olhada no que os operários, as mulheres e os prisioneiros fizeram para o mundo girar. Mais especificamente na França do século XIX, local e data de estudo da historiadora Michelle Perrot, uma das maiores na França, que se propõe principalmente a trabalhar através de vários pontos de vistas diferentes, principalmente o da mulher.
O livro é feito com uma série de palestras e artigos publicados em revistas ou outros livros com vários autores sobre certo assunto, e é separado em três partes, relacionadas aos temas já ditos aí em cima. Como se trata apenas da França e do século XIX, Perrot vai falar de pessoas e acontecimentos de uma forma bem profunda, e recomendo que dêem uma pesquisada antes sobre certos assuntos caso queiram entender bem o livro.
Uma coisa impressionante é que os problemas daquela época não são muito diferentes dos de hoje em dia. Claro que os valores da época faziam muito mal as mulheres e os pobres eram terrivelmente explorados (a questão das revoltas por direitos trabalhistas e as greves daquela época são o tema principal dos operários no livro), mas no geral ainda temos as mesmas questões a se reivindicar e os mesmos culpados por tantos problemas, pelo menos na minha visão e (eu acho) na visão de Perrot.
Nos ensaios dos operários, Michelle foca nos movimentos grevistas, tanto socialistas quanto anarquistas, no Luddismo difundido entre as várias cidades da frança (pra quem não sabe: Luddismo foi um movimento dos operários, começado na Inglaterra, que se baseava em destruir as máquinas industriais que tiravam empregos dos franceses), na relação do operário com a cidade e o espaço social, a questão das mulheres e crianças operárias, entre várias outras coisas. Isso ocupa a maior parte do livro, porque meio que cobre os outros assuntos também, e é o mais “pesquisável”, por assim dizer.
Na parte das mulheres, Perrot fala sobre os direitos que elas conquistaram naquela época, sobre as operárias mulheres e suas questões com o luddismo, a criação dos filhos e etc. Mas acho que a discussão envolvendo as lavadeiras e seus locais de trabalho são o ponto alto dessa parte. Era um sistema de trabalho que o governo francês de Napoleão III tentava afugentar porque conhecia a sua força dentro da sociedade e sabia o quanto elas lutavam pelos próprios direitos.
Por fim, a parte dos prisioneiros fala sobre a vida zoada que esse povo tinha no século XIX. Perrot apresenta a questão dos presídios construídos por capital privado, que tinha a ideia de lucrar o máximo possível, e isso inclui dar a comida mais barata (a estragada) para os prisioneiros, botando eles para trabalhar sem remuneração (isso é algo que acontece nos EUA hoje em dia), e várias outras coisas, além de debater o aumento da criminalidade.
A edição da Paz e Terra é bem bonita, a capa é uma pintura (pelo menos parece ser) que tem tudo a ver com o livro e ele é bem grandinho, com VÁRIAS notas de rodapé (que você só precisa ler se quiser realmente se aprofundar no assunto) que ficam no final de cada ensaio, o que facilita a velocidade da leitura, mesmo que a linguagem técnica exija de você mais atenção e não seja tão trabalhada para agradar quanto uma narrativa, mesmo assim, para quem quer variar e ler coisas interessantes sobre a história do mundo, essa é uma excelente pedida.