Autor: Raduan Nassar
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2013
Páginas: 91
Raduan Nassar é um cara esquisito. E, infelizmente, não no sentido que eu gosto. O cara escreveu um livro de contos, uma novela e um romance, surpreendeu o Brasil inteiro (e atualmente o mundo), PRA DEPOIS IR PRO MATO CUIDAR DE GALINHA. Foda, cara... E agora eu já quero comprar os que faltam o mais rápido possível e ao mesmo tempo economizá-los para que não acabem.
Enfim, vamos à sinopse: um cara que fugiu da cidade e foi morar no campo traz sua namorada/ficante jornalista para a sua casa e começa um vuco vuco movimentado em tudo quanto é canto da casa. Já na parte da manhã, o fazendeiro fica putasso com umas formigas que estão fazendo um buraco na sua cerca viva, e a partir daí o que era para ser um problema bobo vira uma discussão enorme entre os dois.
Uma das coisas legais de não ler sinopse é que o seu preconceito não age na hora da compra, porque se eu soubesse que essa obra é nada mais que sexo e depois uma discussão, eu provavelmente nunca a teria comprado. E foi não lendo nada sobre o livro que eu também tive o prazer de conhecer a escrita de Raduan Nassar: um palavrório incessante e poético, que te obriga a mergulhar de cabeça nesse mundo de palavras e que não te deixa respirar até o capítulo acabar.
Os primeiros capítulos servem principalmente para você se acostumar com a prosa de Raduan e se preparar para o derradeiro quinto capítulo, onde há a discussão. Porém, eles mostram um pouco de como é o relacionamento dos dois e também algumas características do casal que ficarão mais claras durante a briga. Briga essa que faz valer o livro, onde Nassar joga questionamentos políticos e filosóficos o tempo todo, e a propria armação da cena é em si uma metáfora para a ditadura militar que estava acontecendo no Brasil na época em que a novela foi lançada (1978), mas isso eu vou deixar para vocês mesmos descobrirem.
O final é bem interessante e te faz refletir sobre como nós lidamos com as nossas relações, tanto com as cotidianas, quanto as relações com quem está no poder. O livro é fino e eu recomendo muito que seja lido de uma vez só, pelo menos o quinto capítulo, porque não tem onde parar quando não se tem pontos finais. O projeto gráfico da Companhia está clean e sucinto. A capa é a mais sóbria possível, apesar do tom de vermelho. Ele é quase do tamanho dos pockets e ainda assim a letra é grande e o espaçamento é legal, ou seja, perfeito para ler e reler nos dias de tédio. E, obviamente, amar e querer todos os que faltam.