Autora: Cláudia Lemes
Editora: Empíreo
Ano: 2015
Páginas: 352
Blessfield, cidade da Flórida, foi palco do assassinato em série de doze mulheres há um ano, estrelado por Nathan Bardel, que foi julgado e executado. Kate Dwyer é uma escritora obcecada pela vida dele e decide escrever sua biografia, mas ao fazer isso, Nathan, do plano espiritual (?) que se encontra, passa a acompanhá-la. Ao mesmo tempo, novas mortes seguindo o mesmo método de Bardel começam a surgir intrigando e apavorando a todos.
Ryan Owen, o profiler do FBI e um dos maiores responsáveis pela prisão de Nathan, o "esfaqueador de damas", é quem ajuda nessa nova investigação. O que ninguém sabe é que o envolvimento de Kate nessa história traz grandes riscos a sua vida.
Ao abrir o livro, somos recebidos com uma introdução feita pela autora Cláudia Lemes que eu achei bem bacana. Eu já tinha assistido à uma entrevista que ela deu para um vlog e sabia de algumas coisinhas que estavam ali, mas acho que vale ressaltar aqui nesse texto alguns pontos. A autora não quis "fantasiar" a figura do serial killer como estamos acostumados a ver no cinema, seriados e literatura. Ela optou por algo mais próximo da realidade, literalmente. Ela diz que quanto menos glamour e mito acerca desse assunto, mais consciente as pessoas estarão de assassinos assim a sua volta. E não é?! Quando falamos em criminosos desse tipo tendemos a pensar em algo super engenhoso, mirabolante e genial. E nem sempre é o caso. Tendo essa informação de antemão, minha mente já não mais esperava aquilo de sempre, sendo assim, não houve nenhuma decepção. Claúdia adverte também que não poupará os leitores, então prepare-se para muito sangue e cenas chocantes (sério).
E não poupou mesmo. Eu sou muito sensível a certos tipos de crime e eles estavam ali. Inocência minha achar que não estariam, então por vezes foi difícil prosseguir a leitura de uma forma serena. NÃO DÁ PARA FICAR CALMA VENDO AQUILO ALI!!! Em algum nível, você acaba se colocando no lugar das vítimas. Diversas vezes eu me pegava pensando "eu não acredito que uma mulher escreveu isso" pelo simples motivo de que eu não conseguiria. Não tenho estômago para isso. A obra tem discursos carregados de misoginia, chega a dar raiva. Eu não sei como ela conseguiu.
"Eu Vejo Kate" é narrado em primeira pessoa, em sua grande maioria, do ponto de vista de Kate, Ryan e de Nathan. E isso foi algo que eu achei muito interessante: o ponto de vista de um serial killer morto. Louco isso, não?! Quando vi que ele teria uma participação ativa na história, não dei muita atenção pois para mim não seria nada demais, mas acabou se tornando um grande diferencial e o que deu mais graça à obra. Acredito que se fosse narrado apenas por Dwyer e Owen não teria sido tão interessante. Pontos para a autora. Aliás as falas machistas de Bardel, carregadas no ódio e desprezo por suas vítimas, ou por qualquer outra mulher do planeta, são de enojar qualquer um. O pior de tudo é pensar que aquilo ali não está presente só em ficção e que realmente acontece. Apesar de odiá-lo por sua personalidade, tenho que admitir que foi um ótimo personagem na narrativa, talvez o melhor, no sentido de construção e fuga de clichês.
Uma coisa que me fez desgostar um pouco foi o seguinte: romance. Tudo bem um romancezinho ali outro aqui, mas achei que esse ocorreu de forma muito rápida e um tanto quanto forçada. Aquele lance de "te conheci semana passada mas já não vivo sem você", sabe?! Não curto muito essas coisas não, mas tem quem goste. E assim como o romance, achei algumas cenas de sexo meio desnecessárias também. Fez com que eu não amasse certos personagens envolvidos na coisa.
Ryan Owen é um cara legal, mas segue aquela fórmula de agente do FBI que eu conheço muito bem: ficou meio obcecado com a coisa e estragou vários relacionamentos em sua vida. Já Kate, com seu jeito autodestrutivo, me irritou um pouquinho toda vez que decidia se xingar e se pôr para baixo, meio que como uma autoafirmação dessa personalidade e acho que isso não precisava ser tão explícito. Se deixasse nas entrelinhas, para o leitor captar, teria sido mais legal.
As cenas, como falei, são muito bem descritas, a ponto de me deixar agoniada. A escrita é ágil, não há enrolação e pode ser lido em pouquíssimos dias, talvez até em um, apesar de ter quase 400 páginas, pois é algo que te prende e te instiga a chegar ao fim. Você nem sente o passar das folhas. O desfecho aliás, certamente surpreenderá muitos. Eu já tinha adivinhado digamos que uma parte dele haha. O capítulo final, para ser bem precisa, me conquistou horrores.
Já li resenhas sobre ele e muitas com cinco estrelinhas (o que talvez tenha me influenciado a comprar) então sei que é um livro muito querido entre os leitores. Apesar dos vacilos que encontrei durante a leitura citados acima, eu posso dizer que gostei sim e recomendo àqueles que curtem o gênero, mas ao mesmo tempo querem ler algo que foge àquela “fantasia” e romantização do assunto. E claro, que tenham estômago para encarar cenas fortes. Eu gostei muito da escrita da autora, que até então não conhecia, direta e objetiva. Certamente ficarei de olho em seus próximos projetos.