
AUTOR: Roberto Bolaño
PUBLICAÇÃO ORIGINAL: 2016
ANO DA EDIÇÃO: 2017
EDITORA: Companhia das Letras
PÁGINAS: 184
*Exemplar cedido pela editora.
É senhores, voltamos a falar hoje do escritor mais amado desse blog (e essa é uma escolha clara porque dona Carolina diz que não ter nenhum preferido), Chavinho! E eu devo dizer que eu ri muito com os outros posts quando vi nos comentários vocês falando que não sabiam que o Chaves tinha escrito algo. Não gente, Bolaño não é o Chaves, falta um s no final do nome dele para isso. Mas eu mesmo confundi, quando vi o monumental 2666 pela primeira vez, e o nome pequeno batia quase que perfeitamente com o do ator mexicano.
Então vamos começar a debater sobre o seu mais novo lançamento, começando pela sinopse: Jan e Remo são dois jovens chilenos que se mudaram para o México para fugir da ditadura, e enquanto o segundo passa os dias trabalhando para sustentar o pequeno apartamento e conhecendo a molecada que está escrevendo poesia no Chile, o primeiro passa os dias escrevendo cartas para escritores americanos de ficção científica e lendo horrores. Há também uma parte com um escritor de FC misterioso que acabou de ganhar um prêmio e está sendo entrevistado contando-nos de sua obra que o fez ganhar o prêmio.
Eu vi algumas resenhas circulando por aí, e todas elas dizem que este não deve ser o primeiro livro de ninguém que queira ler Bolaño. E eu obviamente concordo. Primeiro porque esse livro claramente está incompleto e pode frustrar o leitor, segundo porque ele tem uma estrutura bem confusa que evoca a estranheza, principalmente na parte do escritor misterioso sendo entrevistado. Os capítulos de Jan, Remo e do escritor são alternados, e as coisas começam a ficar mais normais lá para o meio da obra, quando Remo toma boa parte do espaço da história e é o mais normal dos relatos.
Eu diria que ambos os personagens principais são alter egos de Bolaño, apenas focados em aspectos diferentes da sua pessoa. Remo passa o dia escrevendo para algumas revistas a fim de manter o apartamento, e, depois de uma oficina de poesia, conhece novos amigos inteirando-se dos movimentos literários mexicanos, entre eles o estranho boom de oficinas e revistas de poesia que ocorreu na época, que ele investiga durante todo o livro. Remo representa a parte de formação da juventude mexicana, o amor por poesia de Bolaño e protagonista de um dos momentos mais humanos e lindos do romance.
Jan, por sua vez, tem em seus capítulos apenas as cartas que escreve para os escritores de ficção cientifica, porém ele também aparece nas partes de Remo. Jan traz um pouco da psicodelia do romance ao escrever, às vezes, sobre sonhos que teve. Eu suspeito seriamente que todas as cartas têm a ver com os temas e assuntos dos livros dos escritores em questão, e isso se dá porque a única escritora que eu conheço dos escolhidos (Úrsula K. Le Guin) ganha uma carta baseada em um romance seu, “O Nome do Mundo é Floresta”. Fora isso, ele volta a repetir alguns de seus temas: a impossibilidade da América Latina fazer livros de gênero, a opressão do primeiro mundo contra a América latina, e por aí vai. As viagens dos sonhos são ótimas aliás.
Por fim, temos o relato do escritor, que é contado todo em diálogo com a entrevistadora, e não é revelado seu nome, mas eu tenho uma pequena impressão que na verdade é Jan no futuro, baseado em porra nenhuma. A conversa com a jornalista também tem um ar de estranheza, e a narrativa do seu livro é muito incomum para um livro de ficção científica. Dele também vem a primeira impressão de que a obra ainda está incompleto: o seu relato acaba do nada, sem conclusão nenhuma, e isso mais ou menos na metade do livro.
O projeto gráfico deste lançamento mudou um pouco a cara dos livros do Bolaño, porque agora seu nome e o título estão gigantes e pintados de branco, o que acaba escondendo um pouco mais a capa. O estilo da capa é parecida com as mais antigas, uma pintura meio abstrata com apenas dois tons principais de cores, nesse caso vermelho e verde escuro, que me agrada bastante e sai das pinturas realistas de Monsieur Pain ou Chamadas Telefônicas. Diria que esse é o pior dos três livros que li do mestre chileno, mas não deixa de ser uma ótima obra.