
AUTOR: William S. Burroughs
ANO DE LANÇAMENTO: 1998
ANO DA EDIÇÃO: 2017
EDITORA: Companhia das Letras
PÁGINAS: 144
*Exemplar cedido pela editora.
William Burroughs foi um escritor da famosa geração Beat, que todo mundo conhece (e, agora que eu falei isso, vai aparecer um monte de gente dizendo que nunca ouviu falar apenas para me desmoralizar, estou de olho) como os malandros que escreviam poesia e usavam muita droga, não necessariamente nessa ordem. Esse povo era tudo amigo, e os três grandes pilares, Kerouac, Burroughs e Ginsberg (o único poeta beat de verdade) estão por aí sendo publicados com louvor até hoje, porque o negócio é fazer de tudo para escrever uns bagulhos doidos mesmo.
Deixa eu contar a sinopse então: William Lee, alter ego de Burroughs, anda por aí pela cidade do México sem grandes objetivos, bebendo muito e se encontrando com amigos ou conhecidos, até que se apaixona por um rapaz alemão que acabou de chegar na cidade e faz de tudo para segurar o garoto junto a ele.
Simples né? Parece até roteiro de filme romântico. Se não fosse pelo cenário desolador e os personagens duros e nada caricatos que rodeiam o livro. Lee vive rodeado por amigos gays, mas nenhum deles representa o estereótipo que vive aparecendo nas novelas da Globo. Todos eles são muito humanos por parecerem pessoas bem erradas, seja por serem grossas, mesquinhas, ou por parecerem filhas da puta mesmo, tudo isso divergindo muito do gay que pula e saltita e é super engraçadinho.
A trama consiste nessa perseguição meio doentia de Lee ao rapaz, rola uma sondagem para ver se o alemão gosta de homens e uma preocupação sobre o que o garoto acha dele, e tudo isso para conseguir a primeira noite juntos. Depois a parte doentia trata-se de manter o garoto ao seu lado, um moleque nada burro aliás, que se aproveita dessa paixão maluca de Lee para conseguir uns favores escusos também. Então não espere nada parecido com “o amor é lindo” por aqui não, só gente querendo prazer e se aproveitando disso.
Queer foi um dos primeiros trabalhos de Burroughs e também um dos mais sóbrios referente à parte escrita. Há um conto escrito no estilo cut-up dentro do livro “Cartas do Yage” que é uma maluquice danada, retirando várias frases das cartas anteriores e misturando tudo para fazer uma experiência louca com relação à viagem e às drogas. Porém neste livro Burroughs pega muito mais leve com uma escrita sóbria e simples, utilizando-se também da descrição das pessoas em certos momentos, algo que particularmente não me agrada muito (tenho aversão a descrições), porém tem seus motivos, afinal Lee está em constante admiração com a beleza masculina, e ela precisa ser contada através das descrições. Aliás a ligação entre o livro de correspondências e esse é que em Queer Lee parte para a Colômbia em busca do Yage mas a aventura não é contada.
A edição da Companhia tem uma das capas mais fodas do ano, essa combinação das pistolas que formam uma seringa e a caveira mexicana combinando cores com o fundo rosa está entre as imagens preferidas da minha estante. Porém, como nem tudo são flores, o livro não tem orelha, e eu não sei o motivo. E o pior é que esse padrão se repete por toda a coleção (de apenas três livros, por enquanto) do mestre beat. Tem gente que não se incomoda, até porque a capa é mais grossa que o normal, mas eu sinto falta, o que, na real, não é nenhum motivo para não comprar esse ótimo livro.