Autor: Yu Hua
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2010
Páginas: 632
Pois é amigos, mais um china na área e dessa vez com Yu Hua nós já começamos diferente: logo de cara pegamos o que é considerado seu maior trabalho, Irmãos, coisa que eu geralmente não faço (começar pelo livro mais bem criticado) para que a experiência com o autor só melhore e não que fique “ah, mas não é tão bom quanto tal livro”. Irmãos foi o maior livro do ano até agora, e é um romance de formação, o que me fez notar que eu estou cumprindo o Desafio Livrada 2016 com livros diferentes dos que eu botei (Budapeste para autor do estado, O Cavaleiro Inexistente para ficção histórica, Padre Sergio para russo, Um Copo de Cólera para novela, etc). Será que isso vale? Eu acho que sim.
Mas chega de lenga lenga, vamos para a sinopse: a história é focada na vida de dois irmãos, Li Carequinha e Song Gang, e também da Cidade de Liu, palco de toda a trama que começa com a revolução cultural. O livro mostra toda essa mudança da China desde o começo do movimento até mais ou menos os dias de hoje, juntamente com as várias dificuldades que os dois irmãos tem para lutar pela sobrevivência nesse mundo cão.
Irmãos impressiona pelo seu tamanho não só porque escrever um calhamaço é sempre um desafio, mas também pelo fato de que o autor não verticaliza na escrita, é ação a todo o momento. São 630 páginas de pura história, e a filosofia ele deixa para você fazer depois que acaba a leitura, então pode ter certeza de que você não sentirá lentidão, mas sim ficará preso à narrativa. O problema é que nenhum autor pode segurar essa quantidade de enredo todo sem algum ponto de respiro, e o que acaba acontecendo é que em certos momentos ele comete um erro que eu particularmente abomino, contudo necessário nesse caso: prolixidade. Principalmente quando quer te “lembrar” fatos passados que você só vai ter esquecido caso esteja lendo o livro a passos de tartaruga.
Impossível não rolar comparações com As Rãs. Os livros se passam na revolução cultural, partindo do começo até os dias de hoje, com um misto de humor e tragédia bem latentes na vida de suas personagens. Os momentos trágicos de Hua são graficamente fortes, cenas pesadíssimas que, se estivessem em um filme, pessoas vomitariam ao vê-las em tela. Seu humor também é mais negro, mas, principalmente ao final, vai ficando cada vez mais pastelão. Eu que sou bobo não me incomodei com isso, continuei rindo horrores, mesmo tendo situações meio machistas, coisa que é forte na cultura chinesa. Mas sinto que o humor pastel (fazendo força pra não botar uma piada aqui) é um ponto esteticamente negativo mesmo assim.
Quem leu a resenha de As Rãs sabe mais ou menos para onde essa revolução cultural vai, e essa é outra característica interessante na escrita de Yu Hua: ele te dá spoilers. Na primeira página ele já te conta o final da obra, e durante certas partes ele também vai dando os acontecimentos futuros antes da hora. Algo que poderia irritar algumas pessoas, mas é aí que você vê a competência que esse cara tem ao pegar uma historia tão longa, te dar spoilers, e mesmo assim prender você com as estripulias de Li Carequinha (alias, também como em As Rãs, a grande maioria dos personagens tem apelidos como nome, só que não de partes do corpo) que é um merdeiro profissional e um personagem extremamente interessante de se acompanhar.
A capa do livro é fodastica. O fato de ter um filtro mais sépia/cinza e não ser apenas uma foto é o que da o charme sensacional. Mas a finura das páginas internas e a fragilidade da capa (a minha está com um rachado no meio tanto na frente quanto no verso) não me agradaram. Mesmo assim, leiam Yu Hua e leiam os chineses!