Por: Victor Heliângelo

A TRILOGIA DE NOVA YORK
AUTOR: Paul Auster
PUBLICAÇÃO ORIGINAL: 1985, 1986
ANO DA EDIÇÃO: 2016
EDITORA: Companhia das Letras
PÁGINAS: 342
*Exemplar cedido pela editora.
AUTOR: Paul Auster
PUBLICAÇÃO ORIGINAL: 1985, 1986
ANO DA EDIÇÃO: 2016
EDITORA: Companhia das Letras
PÁGINAS: 342
*Exemplar cedido pela editora.
Antes de começar a resenha, eu gostaria de deixar um trecho da primeira novela, Cidade de Vidro, porque acho extremamente essencial para entender o que é esse livro e como ele pode te surpreender:
“O que gostava nesses livros era o seu sentido de plenitude e economia. No bom livro de mistério, nada é desperdiçado, nenhuma frase, nenhuma palavra que não seja significativa. E ainda que não seja significativa, ela tem o potencial para isso – o que no final dá no mesmo. O mundo do romance se torna vivo, ferve de possibilidades, com segredos e contradições. Uma vez que tudo o que é visto ou falado, mesmo a coisa mais ligeira e trivial, pode guardar alguma relação com o desfecho da história, nada deve ser negligenciado. Tudo se torna essência; o centro do livro se desloca a cada acontecimento que impele a história para frente. O centro, portanto, está em toda parte e nenhuma circunferência pode ser traçada antes que o livro chegue ao fim.”
Esse parágrafo está na página 14 de um livro com 340, então você pode ter certeza que Auster está te mandando um recado: aqui nada está terminado até acabar tudo, e quando ele diz tudo, é tudo mesmo.
Mas começamos muito acelerados, vamos falar um pouquinho sobre a sinopse. Composta por três novelas, todas nesse livro, A Trilogia de Nova York narra histórias policiais passadas em Nova York, quem diria. Cidade de Vidro fala de Quinn, escritor de romances policiais e poeta, que um dia recebe um telefonema de alguém procurando um detetive e resolve assumir a identidade do sujeito, entrando num dos casos mais malucos da história. Fantasmas fala do investigador Blue, aluno de Brown, que foi contratado por White para espionar Black. A última novela, Quarto Fechado, conta a história de Fanshawe, um cara que desapareceu da terra deixando uma mulher e um bebê junto com um material literário de primeira linha, e cabe a seu antigo amigo sem nome, e agora jornalista, organizar sua obra e descobrir o que realmente aconteceu com Fanshawe.
Antes de tudo vou deixar claro o nível de parcialidade da minha resenha. Quando eu terminei a leitura, eu já queria começar a relê-lo na mesma hora. Na verdade, eu acho que é necessário você começar a reler assim que terminar. Eu não pude porque o blog não pode parar, e agora estamos cheios das parcerias então temos que cumprir a demanda, mas, cara... eu acho muito necessário você ler essa obra duas vezes seguidas. Paul Auster brinca com os símbolos linguísticos sem medo de ser feliz, e o constante jogo com os nomes obriga você a ficar esperto e usar seus dotes investigativos para entender o que está acontecendo e por que as coisas foram escritas desse jeito (alguns exemplos: o nome do detetive procurado em Cidade de Vidro é Paul Auster, os nomes dos personagens em Fantasmas são cores e, bem, praticamente tudo em Quarto Fechado... Sem dar spoiler, mas o fato do jornalista não ter nome te faz pensar se é o Paul Auster confessando algo).
Esse livro é considerado um clássico (acho que é, pelo menos entre as pessoas que eu acompanho e por mim) porque ele foi um pioneiro na questão de trazer a estrutura policial para uma história que não é simplesmente policial, ele é um amalgama de vários gêneros, mas fica marcado pelo fato de ter investigadores, culpados e mistérios. Todas as três novelas têm um toque surreal, ele é mais forte na primeira e vai se diluindo conforme troca de narrativa. Há duplos, obsessões e atos totalmente desconcertantes e inconclusivos, sempre com Auster tentando revelar algo pela via sentimental dos narradores, mas nunca racional.
O projeto gráfico me traz paradoxos: ele é totalmente diferente do padrão Paul Auster criado pela Companhia, com covers maravilhosos de uma cor só que mostram somente o nome do livro e do autor, nem código de barra tem, escondendo a capa do livro, geralmente rabiscada para parecer um caderno. Mas essa é a capa clássica, desenhada por ninguém menos que Art Spiegelman, que, caso você não conheça pelo nome, é o criador de Maus, um dos quadrinhos mais importantes da história. O estilo Pulp e a própria identidade visual das capas para as novelas merecem que esse livro seja diferente dos outros, deixando bem claro que esse é o melhor de Paul Auster, e com certeza um dos melhores que você vai ler esse ano.
“O que gostava nesses livros era o seu sentido de plenitude e economia. No bom livro de mistério, nada é desperdiçado, nenhuma frase, nenhuma palavra que não seja significativa. E ainda que não seja significativa, ela tem o potencial para isso – o que no final dá no mesmo. O mundo do romance se torna vivo, ferve de possibilidades, com segredos e contradições. Uma vez que tudo o que é visto ou falado, mesmo a coisa mais ligeira e trivial, pode guardar alguma relação com o desfecho da história, nada deve ser negligenciado. Tudo se torna essência; o centro do livro se desloca a cada acontecimento que impele a história para frente. O centro, portanto, está em toda parte e nenhuma circunferência pode ser traçada antes que o livro chegue ao fim.”
Esse parágrafo está na página 14 de um livro com 340, então você pode ter certeza que Auster está te mandando um recado: aqui nada está terminado até acabar tudo, e quando ele diz tudo, é tudo mesmo.
Mas começamos muito acelerados, vamos falar um pouquinho sobre a sinopse. Composta por três novelas, todas nesse livro, A Trilogia de Nova York narra histórias policiais passadas em Nova York, quem diria. Cidade de Vidro fala de Quinn, escritor de romances policiais e poeta, que um dia recebe um telefonema de alguém procurando um detetive e resolve assumir a identidade do sujeito, entrando num dos casos mais malucos da história. Fantasmas fala do investigador Blue, aluno de Brown, que foi contratado por White para espionar Black. A última novela, Quarto Fechado, conta a história de Fanshawe, um cara que desapareceu da terra deixando uma mulher e um bebê junto com um material literário de primeira linha, e cabe a seu antigo amigo sem nome, e agora jornalista, organizar sua obra e descobrir o que realmente aconteceu com Fanshawe.
Antes de tudo vou deixar claro o nível de parcialidade da minha resenha. Quando eu terminei a leitura, eu já queria começar a relê-lo na mesma hora. Na verdade, eu acho que é necessário você começar a reler assim que terminar. Eu não pude porque o blog não pode parar, e agora estamos cheios das parcerias então temos que cumprir a demanda, mas, cara... eu acho muito necessário você ler essa obra duas vezes seguidas. Paul Auster brinca com os símbolos linguísticos sem medo de ser feliz, e o constante jogo com os nomes obriga você a ficar esperto e usar seus dotes investigativos para entender o que está acontecendo e por que as coisas foram escritas desse jeito (alguns exemplos: o nome do detetive procurado em Cidade de Vidro é Paul Auster, os nomes dos personagens em Fantasmas são cores e, bem, praticamente tudo em Quarto Fechado... Sem dar spoiler, mas o fato do jornalista não ter nome te faz pensar se é o Paul Auster confessando algo).
Esse livro é considerado um clássico (acho que é, pelo menos entre as pessoas que eu acompanho e por mim) porque ele foi um pioneiro na questão de trazer a estrutura policial para uma história que não é simplesmente policial, ele é um amalgama de vários gêneros, mas fica marcado pelo fato de ter investigadores, culpados e mistérios. Todas as três novelas têm um toque surreal, ele é mais forte na primeira e vai se diluindo conforme troca de narrativa. Há duplos, obsessões e atos totalmente desconcertantes e inconclusivos, sempre com Auster tentando revelar algo pela via sentimental dos narradores, mas nunca racional.
O projeto gráfico me traz paradoxos: ele é totalmente diferente do padrão Paul Auster criado pela Companhia, com covers maravilhosos de uma cor só que mostram somente o nome do livro e do autor, nem código de barra tem, escondendo a capa do livro, geralmente rabiscada para parecer um caderno. Mas essa é a capa clássica, desenhada por ninguém menos que Art Spiegelman, que, caso você não conheça pelo nome, é o criador de Maus, um dos quadrinhos mais importantes da história. O estilo Pulp e a própria identidade visual das capas para as novelas merecem que esse livro seja diferente dos outros, deixando bem claro que esse é o melhor de Paul Auster, e com certeza um dos melhores que você vai ler esse ano.