Por: Victor Heliângelo
O PERCEVEJO
AUTOR: Vladímir Maiakóvski
PUBLICAÇÃO ORIGINAL: 1928
ANO DA EDIÇÃO: 2009
EDITORA: Editora 34
PÁGINAS: 112
AUTOR: Vladímir Maiakóvski
PUBLICAÇÃO ORIGINAL: 1928
ANO DA EDIÇÃO: 2009
EDITORA: Editora 34
PÁGINAS: 112
No Skoob, há uma resenha desse livro que para mim prova que literatura é algo muito complexo, a ponto de o texto ser praticamente a coisa que menos importa na hora da análise em certos casos. O cidadão deu uma estrela (até aí tudo ótimo) e afirmou que esse texto que “exalta o comunismo russo” prova o quanto essa ideologia é errada, a ponto de querer blábláblá (ele dá spoilers, nós não). A visão política do sujeito e a falta de conhecimento histórico o fizeram pensar que se tratava de um texto positivo e entusiasta, quando é justamente o contrário.
Isso quer dizer que a interpretação dele é inválida? Claro que não. Ele praticamente chegou à mesma conclusão que o autor, só não viu que o autor queria dizer aquilo também (nem o fato de estar escrito “comédia” na capa o ajudou a entender a ironia). Talvez ele não saiba que o Senhor Maiakóvski era um poeta que inicialmente apoiava a Revolução Russa, mas no final de sua vida já não a considerava a melhor das ideias, fora o fato do próprio governo ter tentado censurá-lo e criticado fortemente o seu estilo de escrita “muito difícil para as massas”. Por isso ele criou essa peça, que é uma crítica satírica à situação da Rússia naquela época.
Vamos à sinopse então: Prissipkin é um membro do partido e por isso tem privilégios dentro da sociedade comunista russa. Ele é casado com a dona de um salão de cabeleireiro, e, durante o auge do seu abuso de poder, o prédio pega fogo. Quando os bombeiros chegam com as mangueiras a água que sai congela em pleno ar, fazendo o lugar virar um enorme ringue de patinação. Anos depois, cientistas descobrem um homem e uma antiga praga, um percevejo, congelados e com chances de reviverem, e então passamos a acompanhar Prissipkin na Rússia comunista do futuro.
Eu basicamente contei a maior parte da trama na verdade, porque essa peça é muito curta e para falar dela é necessário que vocês saibam que a história é dividida em duas partes: a primeira, criticando o sistema abusivo dos líderes do partido comunista no país na época do Maia, e a segunda, imaginando o rumo que esse sistema poderia tomar, resultando numa distopia que com certeza inspirou 1984, embora bem mais simples e resumido, é claro.
A primeira coisa que me chamou a atenção não foi nem o enredo, mas sim o fato de a linguagem do Maiakóvski ser bem parecida com a dos atuais chineses, me fazendo ver a óbvia influência que o principal país comunista teve no seu “irmão vermelho”, e é natural que um dos maiores influenciadores seja o poeta já que ele surgiu durante a Revolução Russa e era grande apoiador do comunismo. Acontece que no final da sua vida, antes de seu suicídio, Maia já estava meio puto com esse pessoal porque a crítica vivia dizendo que ele era muito difícil para a massa, Stalin estava começando seu mandato de tirania e a sociedade consumista ia se formando através dos camaradas do partido, fazendo apenas a balança mudar e os proletariados tornarem-se superiores esmagando gente da pequena burguesia e os outros trabalhadores que não detinham a posição de membro do partido.
Aí o livro fica uma loucura quando entra na parte de ficção científica/fantasia, mostrando um povo que se esqueceu de coisas que não julga importante para o convívio perfeito em sociedade, exterminou tudo (e todos) que não ajudavam na construção de um partido e um sistema comunista perfeito, e, como resultado, sobraram pessoas iguais e estéreis de emoção, que não entendem coisas simples como o amor e o suicídio. Claramente uma ideia precursora das famosas distopias que tanto tem por aí hoje em dia, dando a essa peça de teatro ainda mais status, como se a habilidade do poeta russo já não fosse suficiente.
O livro da Editora 34 tem a capa seguindo o padrão da Coleção Leste, basicamente a melhor coleção que está no mercado hoje em dia, reunindo todas as obras do leste europeu dos mais consagrados autores, como Dostoiévski e Tolstói por exemplo. A parte colorida da capa é tão doida quanto o futuro distópico da obra, e dentro do livro ainda existem vários extras, como fotos e a história da montagem dessa peça no Brasil. Maravilhoso e crítico, do jeito que a gente gosta.
Isso quer dizer que a interpretação dele é inválida? Claro que não. Ele praticamente chegou à mesma conclusão que o autor, só não viu que o autor queria dizer aquilo também (nem o fato de estar escrito “comédia” na capa o ajudou a entender a ironia). Talvez ele não saiba que o Senhor Maiakóvski era um poeta que inicialmente apoiava a Revolução Russa, mas no final de sua vida já não a considerava a melhor das ideias, fora o fato do próprio governo ter tentado censurá-lo e criticado fortemente o seu estilo de escrita “muito difícil para as massas”. Por isso ele criou essa peça, que é uma crítica satírica à situação da Rússia naquela época.
Vamos à sinopse então: Prissipkin é um membro do partido e por isso tem privilégios dentro da sociedade comunista russa. Ele é casado com a dona de um salão de cabeleireiro, e, durante o auge do seu abuso de poder, o prédio pega fogo. Quando os bombeiros chegam com as mangueiras a água que sai congela em pleno ar, fazendo o lugar virar um enorme ringue de patinação. Anos depois, cientistas descobrem um homem e uma antiga praga, um percevejo, congelados e com chances de reviverem, e então passamos a acompanhar Prissipkin na Rússia comunista do futuro.
Eu basicamente contei a maior parte da trama na verdade, porque essa peça é muito curta e para falar dela é necessário que vocês saibam que a história é dividida em duas partes: a primeira, criticando o sistema abusivo dos líderes do partido comunista no país na época do Maia, e a segunda, imaginando o rumo que esse sistema poderia tomar, resultando numa distopia que com certeza inspirou 1984, embora bem mais simples e resumido, é claro.
A primeira coisa que me chamou a atenção não foi nem o enredo, mas sim o fato de a linguagem do Maiakóvski ser bem parecida com a dos atuais chineses, me fazendo ver a óbvia influência que o principal país comunista teve no seu “irmão vermelho”, e é natural que um dos maiores influenciadores seja o poeta já que ele surgiu durante a Revolução Russa e era grande apoiador do comunismo. Acontece que no final da sua vida, antes de seu suicídio, Maia já estava meio puto com esse pessoal porque a crítica vivia dizendo que ele era muito difícil para a massa, Stalin estava começando seu mandato de tirania e a sociedade consumista ia se formando através dos camaradas do partido, fazendo apenas a balança mudar e os proletariados tornarem-se superiores esmagando gente da pequena burguesia e os outros trabalhadores que não detinham a posição de membro do partido.
Aí o livro fica uma loucura quando entra na parte de ficção científica/fantasia, mostrando um povo que se esqueceu de coisas que não julga importante para o convívio perfeito em sociedade, exterminou tudo (e todos) que não ajudavam na construção de um partido e um sistema comunista perfeito, e, como resultado, sobraram pessoas iguais e estéreis de emoção, que não entendem coisas simples como o amor e o suicídio. Claramente uma ideia precursora das famosas distopias que tanto tem por aí hoje em dia, dando a essa peça de teatro ainda mais status, como se a habilidade do poeta russo já não fosse suficiente.
O livro da Editora 34 tem a capa seguindo o padrão da Coleção Leste, basicamente a melhor coleção que está no mercado hoje em dia, reunindo todas as obras do leste europeu dos mais consagrados autores, como Dostoiévski e Tolstói por exemplo. A parte colorida da capa é tão doida quanto o futuro distópico da obra, e dentro do livro ainda existem vários extras, como fotos e a história da montagem dessa peça no Brasil. Maravilhoso e crítico, do jeito que a gente gosta.